Alice 9
Carlos
deu uma volta pela aldeia antes de se dirigir à casa de Alice.
Queria ver o lugar, ver as pessoas. Entrou na
mercearia, e comprou um maço de tabaco.
Não
que fumasse, já deixara esse vício há uns bons anos, mas era um modo de
observar, de meter conversa, de fazer algumas perguntas. Foi assim que ficou a
saber que Alice e Lurdes eram de facto muito amigas, e que tinham um destino
reservado semelhante.
Também
confirmou que Alice era uma especialista em chás, e que de facto ajudava muito
as pessoas. Era íntima de Lurdes e da casa.
Apesar
de não gostar de Olinda e de todos os nervos do seu corpo o alertarem contra
ela, via-se obrigado a dar-lhe razão.
Alice
parecia ser a pessoa que mais oportunidade e motivo tivera. Era conhecida pelos
seus sonhos, pela sua vontade de levar uma vida diferente, e…pelos seus chás.
Todos
falavam dela como aquela que queria ter estudado mais, que queria ter sido
médica. E ao que parece tudo tinha começado há uns anos com um professor que
trouxera aquelas "ideias parvas" de "gente da cidade".
Tinha
afetado vários moços, mas de todos quem tinha ficado mais virado era a Alice.
Entretanto,
a Alice, já chegara a notícia de que andava um inspetor pela aldeia a
investigar a morte da D. Augusta. Também lhe chegara aos ouvidos que Olinda já
se tinha "apoderado" dele.
-
Bonito! O caldo estava entornado. Mas que raio de mulher! Porque é que ela não
desaparecia de uma vez?!
A
vida corria tão bem quando ela estava para lá das montanhas....
Nisto,
o Carlos chegou a sua casa. Bateu à porta e esperou. Alice perguntou quem era.
-
Pergunta parva! - Pensou. - Só podia ser o tal inspetor. O resto das pessoas
não batia à porta, simplesmente abria-a e chamava por ela ao mesmo tempo que
entrava.
-Bom
dia. Carlos Pereira, inspetor da Judiciária. - Apresentou-se. - "Procuro a
Sra. Alice.
Alice
entreabriu a porta.
-
Sim? - Perguntou com um ar pouco
simpático. – Sou eu. O que deseja?
Carlos
não estava à espera daquilo. Alice era uma mulher de porte médio, um rosto
redondo, cabelos castanhos, longos, mas tinha um porte e uns olhos que sem
serem altivos impunham respeito. Naquele momento estavam zangados, mas emanavam
um ar de intocabilidade....
Ficou
atrapalhado. Era raro isto acontecer-lhe, mas a verdade é que, por alguns
momentos, ficou sem palavras...
Alice
olhava-o, calada. Com um ar desafiante. O que é que este inspetor queria dela?
Como Carlos não falava, insistiu:
-
Posso ajudá-lo? - Disse-o com uma voz firme. Não abria mais a porta. Não o
convidava a entrar. Isso deixou Carlos ainda mais desconcertado.
-
Hum, precisava de falar consigo. Posso entrar, ou falamos aqui à porta? -
Carlos finalmente recuperara o sangue frio, e usara o seu tom irónico.
Alice
olhou-o demoradamente enquanto decidia o que fazer. Alguns momentos depois,
abriu a porta e convidou-o a entrar. A sua mãe estava sentada na sala a ver o
programa da tarde. Alice apresentou-os e depois convidou Carlos a ir beber um
chá na cozinha. Não queria incomodar a mãe.
- Outra vez chá? - Pensou Carlos. Mas que
raio...
- Não, obrigado. Quero apenas um copo de água.
Alice
foi buscar um copo ao armário, abriu a torneira e encheu o copo. Estendeu-lho.
Sempre em silêncio. Esperava. Avaliava-o...
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Rthyfr
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