A promessa 9

James saiu da universidade sénior a sentir-se satisfeito. Fora ter com a Grace que muito simpaticamente o ajudou a escolher os horários, e o apresentou a dois colegas, um professor de pintura e uma professora de história de artes que o receberam calorosamente.

- Parecem ser gente simpática! – pensou enquanto se dirigia ao hospital para levantar os seus exames. - Agora, para o dia acabar em beleza, só faltava que os resultado fossem bons, e que eu não tivesse nada de especial. A Alexandra ainda não me disse nada, espero que isso não signifique que algo esteja errado… O médico avisou-me que com o meu historial… Mas não há-de ser nada. Eu não sinto nada… Mas também eles não sentiam a princípio… - ia discutindo consigo próprio enquanto percorria a pé os poucos quilómetros que separavam a universidade do hospital.

Começou a sentir-se apreensivo, e a ficar ansioso, quando recebeu um telefonema da Alexandra.

- Olá! Estás bom?

- Olá! Eu estou e tu? Estava mesmo agora a pensar em ti.

- Mau… Mas o que é que se passa hoje? – Alexandra falou mais para si do que para ele.

- Como assim? Não percebo… - O que quereria ela dizer com o “mau.”?

Aflito como estava, interpretara mal o comentário dela, pensando que o “mau” se referia a ele e aos seus exames.

- É que hoje de manhã liguei para a Júlia que me disse exatamente o mesmo, que estava a pensar em mim. – Riu-se.

James respirou de alívio.

- Ah, bom! Então é porque és bruxa! – Brincou.

- Se calhar sou. E é melhor tratarem-me bem, se não querem que vos enfeitice! – Alinhou, bem disposta, na brincadeira.

- Pois, estou a ver…Olha, e por falar em bruxa, por acaso não sabes dos meus exames? – Estava quase a chegar ao hospital.

- Por acaso estou com eles à minha frente. Por isso é que te liguei.

Sentiu um baque no coração e um calafrio pela espinha acima. Aclarando a voz, perguntou:

- Ah! E então?

- Então o quê?

- Então, como é que estão?

- Estão num envelope fechado. – arreliou-o.

- Sério? Podes abrir. – Sentia-se cada vez mais ansioso. Há já muito tempo que não fazia exames e agora, perante um veredito, temia a verdade.

- Porque é que não os vens buscar e vemo-los juntos? – perguntou dengosa.

- Estou mesmo a chegar. Onde estás? – respondeu sem notar o modo sugestivo como ela lhe falara.

- Estou…Posso estar na cafetaria. Quanto tempo demoras?

- 10 minutos e estou aí. Até já.

Desligou o telefone, deixando Alexandra aborrecida.

- Que frio. Nem um beijinho, ou obrigada. – Refilou para o ar, enquanto se dirigia para o local combinado com o envelope na mão.

Entretanto, Júlia que tinha uma consulta marcada no mesmo hospital, resolveu ir um pouco mais cedo, e procurar pela Alex.  De manhã, quando falara com ela, nem se lembrara que tinha de ir ao hospital naquele dia…

Uma vez lá chegada, dirigiu-se até ao serviço da amiga para perguntar por ela, e um colega disse-lhe que Alexandra tinha ido beber um café. Provavelmente estaria na cafetaria.

Decidida foi até lá. Resolvera seguir o conselho de Jacques e lutar por James. Afinal ela dissera que pensava que tinha surgido um clima. Que ele quase a tinha beijado. Podia muito bem estar enganada, se bem que ele não lhe ter respondido à mensagem irritava-a e deixava-a um pouco apreensiva.

Ir-lhe-ia fazer uma surpresa, e quem sabe, depois da consulta, não esperaria pela hora de saída dela e poderiam ir juntas comer qualquer coisa? Há já uns bons tempos que não o faziam e como queria esclarecer as coisas com ela, um jantar parecia-lhe uma boa oportunidade para o fazer.

James não demorou os 10 minutos que dissera demorar, ainda mal Alexandra se tinha sentado, ele apareceu e sentou-se à sua frente. Cumprimentando-a com um “olá” desprendido, perguntou-lhe pelos exames.

- Olá! Boa tarde para ti também! – respondeu-lhe ela mostrando o seu aborrecimento.

- Boa tarde. – disse ele sem compreender. – Já nos tínhamos cumprimentado, ainda agora… - Estava a ser sincero. Não estava a perceber o porquê do tom aborrecido dela.

- Pois já…Esquece. Olha tens aqui os exames. – Entregou-lhe, friamente, um envelope tamanho A4 com o logotipo do hospital e uma etiqueta com o nome dele e a data de realização dos exames.

Ele agarrou-o e ficou a olhar para ele, sem se mexer.

- Então não abres? – Incitou-o. – Ou queres fazê-lo sozinho? Eu posso ir-me embora… - Começou a levantar-se.

- Não. Fica! – Ordenou-lhe de uma forma um pouco agressiva.

Ela arregalou-lhe os olhos e questionou-o mudamente.

- O que se está a passar?

Ele apercebeu-se do tom agressivo e de imediato pediu desculpa, explicando-se.

- Estou nervoso por causa de uma coisa que o médico disse…

- O quê? – Já tinha esquecido o amuo e estava preocupada.

- Bem, na verdade não foi nada de especial. – Ao dizê-lo em voz alta, percebia o quão tolo deveria soar. – Ele, hum… Ele só me disse que com a idade que tenho, e pelo facto de não fazer exames há muito tempo, que me deveria preparar para uma surpresa menos boa…

- O quê? – A sua cara de espanto mostrava que não acreditava que um médico tivesse dito aquilo.

- Sim, porque os meus pais faleceram de cancro. Os dois… E a minha mulher também… - Justificou-o olhando para baixo.

- Ah! – Agora ela percebia. – Mas isso não quer dizer que tenhas alguma coisa obrigatoriamente. – animou-o afagando-lhe a mão que ainda segurava o envelope sem ter coragem para o abrir.

- Eu sei, mas… - Virava o envelope de um lado para o outro, sem coragem para o abrir.

- Isto é como o gato de Shrodinger… - disse-lhe esquecendo-se de que não estava a falar com uma física.

- O gato de quem? – Ela olhou-o como se ele estivesse a ficar louco.

- O gato na caixa… Pode estar vivo ou estar morto. Enquanto não se abrir a caixa não se sabe…É possível acreditar que esteja vivo…

- Não estou a seguir-te…

- Esquece… - Ele suspirou e virou o envelope mais uma vez.

- Olha, em vez de estares a sofrer com o que pode ou não ser, porque é que não tiras a prova dos nove? Vamos abrir, queres?

- Quero. – respondeu sem muita convicção, após alguns segundos de hesitação.

- Então vamos lá. Força. – Pressionou-lhe levemente a mão.

Ele olhou-a agradecido e num repente rasgou a parte de cima do embrulho, e tirou de lá de dentro os exames e o relatório.

Com as mãos trémulas, segurou o papel e começou a ler. Ela olhava-o ansiosa, tentando ler na expressão do rosto dele alguma pista que a elucidasse em relação aos resultados.

- Então? – perguntou ansiosa.

- Então…Está tudo bem! – Suspirou de alívio com um sorriso estampado no rosto e olhos lacrimejantes. A pressão tinha sido muita.

Contente, ela levantou-se e genuinamente abriu os braços dizendo:

- Eu sabia… Dá cá um abraço.

E ele, emocionado e grato, levantou-se e abraçou-a.

Foi nestes preparos que Júlia os foi encontrar, quando se dirigiu à cafetaria à procura de Alexandra. Abriu a porta e encontrou-os abraçados, ele de costas viradas para ela, e o rosto de Alexandra de olhos fechados encaixado no ombro dele. Nos lábios um sorriso.

Sentiu uma náusea subir-lhe esófago acima, e, tão depressa como a abriu, fechou a porta e saiu a correr do hospital.

- Que se lixe a consulta. – Pensou. – Preciso de apanhar ar.


 

 


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