António 3
- Não sejas parvo. - Manuela interveio em sua defesa – Estás muito
bem António. – Disse-lhe, fazendo-lhe uma festa no rosto e dando-lhe um beijo
na bochecha.
Ele sentiu-se nas nuvens, mas fez o
possível e o impossível para o não demonstrar. Se ao menos ela soubesse, se
suspeitasse só um pouquinho…
Sentaram-se num Corsa que tal como o
dono apresentava sinais de desgaste.
- Quando é que compras uma carripana nova?
– Arreliou-o Manuel. Olha que depois desta noite vais ter de arranjar uma coisa
melhor. Não vais querer levar uma artista a passear num chaço velho como este.
– Ria-se com vontade enquanto se virava para trás a pedir o apoio de Manuela.
Pronto. Tinha começado. – Pensou António.
- Queres parar com a estupidez ou ficamos
já por aqui? – Começava a perder a paciência.
- Meninos, já chega. Vamos de uma vez por
todas. - Tal como António, Manuela às vezes não tinha paciência para Manuel.
Parecia um puto.
Chegaram ao fim de pouco tempo e por sorte
encontraram um bom lugar para estacionar o carro.
- Um bom auspicio. – Comentou Manuela com
um sorriso enquanto enfiava o braço no braço de Manuel. Estamos mesmo pertinho.
- Onde é? - Perguntou António enquanto
trancava a porta do seu lado.
- É mesmo ali! - Apontou para o fundo da
rua. - Vês aquela casa com um telheiro à porta?
Ele franziu os olhos e focou-os numa
casa de dois andares entre dois prédios também de baixa altura. Tinha um ar
centenário. Um dos prédios tinha um arco que daria para um pátio, supunha ele.
Por baixo de telheiro estavam lado a lado
dois vazos com hortenses azuis e uma mesa de madeira tosca com duas cadeiras a
condizer, embora diferentes entre si. No centro da mesa estava um vaso com uma
flor branca que ele não soube identificar.
- Hum. Tem muito bom ar. – Exclamou com um
ar agradado.
- Pois tem. – Gozou o Manuel. - Mas não é
para lá que vamos.
- Não? – A deceção era visível no tom de
voz.
- Não. Vamos para uma muito melhor, dentro
do pátio. – Manuela tirou o braço do Manuel e enfiou-o no de António. – Vais
ver que vais gostar. Vamos!
António sorriu para si e com o coração
reconfortado pelo aconchego dela, seguiu confiante.
Atravessaram o arco e deram com pátio que
parecia ter saído do século anterior.
Tinha umas cinco casas dispostas num círculo
e num meio um grande, grande carvalho que dava sombra a uns bancos que em dias
de sol eram o conforto aconchegante de quem ali se sentava por um pedaço de
tempo.
Uma das casas tinha umas portas enormes de
madeira, pesadas, pintadas de um verde já esmorecido pelo sol e pela chuva.
Tinha a meio, umas aldrabas em metal com a
cabeça de um leão de cuja boca pendiam umas argolas de ferro. Ao lado, bem
pequenino e escondido, estava uma campainha que recordava que estávamos no
presente e não no passado.
Tocaram.
Com um chiar, uma das portas abriu-se
mostrando um homem de estatura mediana envergando uma camisa branca e umas
calças pretas. Trazia à cintura um avental grená e no rosto um sorriso franco.
- Olá! Chegaram cedo. Entrem e sentem-se
na mesa do lado direito se faz favor. As outras estão reservadas para os “camones”
- Disse beijando a Manuela e cumprimentando o Manuel com um abraço.
- Olá! – Responderam ambos. – E virando-se
para o António, Manuela apresentou-o como um velho amigo.
- Muito prazer. Eu sou o Paulo. - disse
estendendo a mão para o cumprimentar. – Fiquem à vontade. Os outros também não
devem tardar…
- Outros?! – António não gostou do que
ouviu. Se eram aqueles tipos amigos do Manel que passam a vida bêbados e o
escolhem como alvo das piadas ia-se já embora. Tinha 50 anos, já não estava
para aturar isto.
Olhou de soslaio para Manuela
interrogando-a com o olhar.
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