Carolina 19
- Desculpe-me. Não a
queria assustar. Sou Filipe. - E estendeu a mão num cumprimento que Carolina
ignorou, não por má educação, mas por estar a tentar encaixar aquela figura na
figura que a sua imaginação criara.
- Posso? - Filipe puxou
a cadeira e sentou-se.
- Creio que é a
Carolina ou Catarina, que tem trocados mails comigo e que combinou hoje aqui um
encontro comigo. Certo?
- Ssim. – Balbuciou. - Mas
esperava uma equipa de pessoas mais velhas – Deixou escapar. Depois
apercebendo-se do que disse, tornou-se vermelha e pediu muitas desculpas.
- Não tem mal. – Filipe
riu-se.
- Eu também pensava que
era mais velha...- Disse. E perante o olhar divertido dela confessou:
- E com gatos!!!
Riram – se os dois à gargalhada.
Enquanto se riam, o
cérebro de Filipe, retrocedeu para o nervosismo ao aperceber-se de Carolina era
muito mais do que aquilo que ele esperava.
Mesmo sem falar com
ela, sem a conhecer, Filipe sentia que ela era especial, não sabia bem porquê,
mas todos os poros do seu corpo afirmavam-no, porém teimoso e orgulhoso como
era resolveu ignorar o que sentia e olhar para ela de uma forma puramente comercial.
Assim ordenou ao seu
corpo que esquecesse todo e qualquer instinto animal e encetou as conversações.
Carolina escutava-o enlevada.
Gostava da voz dele,
forte, grave, pausada e penetrante.
A meio da conserva deu
por si a imaginá-lo vestido com um cota de malha, armadura e capacete, de lança
na mão e em cima de um cavalo numa liça medieval.
Tão
embrenhada estava nesses pensamentos que demorou a responder à pergunta que ele
lhe fizera. Ao voltar à realidade, corou e balbuciou:
- Hum, desculpe.
Perdi-me em pensamentos, o que me perguntou?
- Espero que tenham
sido pensamentos agradáveis. - Ele não resistiu a olhá-la nos olhos, tentando
ler a alma por trás deles.
Descobrindo que era
possível corar ainda mais, Carolina baixou o espelho do seu embaraço e não
respondeu. Não sabia o que dizer.
Ele olhou-a demoradamente e sentiu crescer em si o desejo
de a beijar. A que saberiam aqueles lábios bem desenhados e de um vermelho
fogo?
Ela deve-o ter sentido
ou adivinhado, porque inconscientemente, passou a língua por eles num gesto
convidativo.
Ele, no entanto,
refreou-se.
Contra a vontade de
saltar da cadeira e arrebatá-la, deixou-se ficar quieto. Levou o seu cérebro
para coisas mais prosaicas e pigarreando repetiu a pergunta:
- Concorda com os
termos do contrato ou quer consultar uma opinião externa?
- Hum. Sim, sim.
Concordo. – Ela assentiu ao mesmo tempo que fazia um esforço para ir buscar ao
fundo da sua memória as palavras proferidas cerca de 10 minutos antes.
- Tem a certeza? Não
quer mesmo consultar mais ninguém? Não tem de decidir hoje...
Ela reconsiderou.
Apreciando o gesto cavalheiresco dele, respondeu-lhe que talvez fosse melhor pensar.
- (sozinha e longe de ti) - Disse para si.
- Então fico à espera
de uma resposta sua. Carolina ou... Catarina?
Se um buraco ali
houvesse, ela ter-se-ia lá enfiado. Mas disfarçou, e saiu-se com naturalidade.
- Catarina é o meu pseudónimo,
Carolina é o meu nome verdadeiro.
- Ah! Engraçado.
Normalmente as pessoas escolhem pseudónimos muito diferentes do seu nome de
batismo- comentou ele.
- Pois...não sei o que
lhe responder ...
- Não responda. Não é
preciso. Foi só um “a parte” ...
Ela levantou-se e ele
imitou-a. Despediram-se com um aperto de mão e uma promessa de novo encontro em
breve.
Ela afastou-se e ele
voltou a sentar-se olhando-a a afastar-se, os cabelos presos num rabo de cavalo
a movimentarem-se ao ritmo dos quadris, que se bamboleavam em cima de umas
pernas longas e magras cujas calças realçavam o desenho, mas deixavam o resto
para a imaginação, e ...imaginação era algo que não lhe faltava...
- Então, conhece a Dona
Carolina? – Maria veio interromper os seus devaneios.
Comentários
Enviar um comentário