Carolina 16


- Mas porquê? – Dizia para si mesma. - Mas porque é que todos mandam na minha vida menos eu? – Exagerava.
Nisto toca o telefone. Era Rita.
           - Então miga, como estás? Já te decidiste?
           - Não. E não sei se o vou fazer.
- Então? Porquê? Passou-se alguma coisa?
           E Carolina contou-lhe o que se passara na Universidade, como ficara irritada por sentir que todos se metiam na sua vida, e acima de tudo como tinha ficado desorientada com a referência à mãe.
- Ó! Vá lá. Tens de ultrapassar isso. Tens 35 anos. És uma mulher bem-sucedida, e independente. A opinião da tua mãe não interessa para nada.
           - Pois, mas o pior é que interessa. – Lamuriou-se. - Continuo a ouvi-la no cimo daqueles saltos altos – sabes que quando era pequenina pensava que os sapatos eram uma extensão dos pés dela? E que ela nunca os tirava?
           Rita riu-se.
           - Pois, ela nunca os tira, pois não? Nem aos fins de semana…
           - Não. Ela nunca perde a pose. – Rita imitou a mãe.
           - Mas dizias…
           - Dizia que ainda a estou a ouvir a chamar-me de falhada, a mim e ao meu pai, a quem segundo ela, eu me parecia demasiado, por gostar de escrever.
           - Pois, mas não és, pois não?
           Carolina não respondeu.
           - Não és, pois não? – Insistiu Rita.
           - Não, suponho que não…
           - Então levanta-me o rabo desse sofá e vai enviar o mail de resposta, anda.
           - Como é que sabes que estou no sofá? – Admirou-se Carolina.
           - Porque te conheço como as minhas mãos… Já vou! – Gritou para o filhote. – Olha tenho de ir. Beijocas e manda a tua mãe para aquele lugar…
Carolina ficou a olhar para o telemóvel…Mandar a mãe para aquele lugar era demais… Mas não ela deixava de ter alguma razão. Estava na hora de provar a si própria que era capaz de sair do buraco e de ver o sol.
           Levantou-se, foi até à cozinha aquecer um prato de sopa e enquanto comia pensava no que dizer.
           Arrastando o tempo para ganhar coragem, lavou a loiça, secou-a e arrumou-a. Aproveitou para organizar a gaveta dos talheres, coisa que há muito decidira fazer, mas que nunca tivera realmente vontade. Naquele dia sentiu que era uma tarefa inadiável.
           Depois da cozinha arrumada, e olhando em volta e não encontrando mais nada que precisasse de tratamento urgente, decidiu-se então a enviar o email. Arrastou-se novamente até à sala e sentando-se na mesa, abriu o ecrã do portátil. Ligou-o e enquanto esperava que o programa carregasse, começou a escrever mentalmente:

           “Caro Filipe.
Devido a um imprevisto, regressei mais depressa do que contava a Portugal.”

           Não.
“Boa noite Filipe.
           Ao contrário do que lhe disse no último mail, regressei a Portugal mais cedo do que o previsto e deste modo encontro-me disponível para uma reunião consigo, “

           - “Consigo, consigo… Consigo e com a sua equipa.  – Melhor assim. Mantenho a distância e salvaguardo-me de tarados.” – Emendou.
           “Consigo e com a sua equipa, para uma reunião a um sábado ou domingo nas vossas instalações ou noutro local que considerar adequado. Espero que o facto de só poder reunir-me aos fins de semana, não seja para vós um impedimento.
           Aguardo por notícias vossas e agradeço desde já o vosso interesse pelos meus contos.
           Atenciosamente Carolina.”
           Sem pensar mais, e antes que se arrependesse, Carolina enviou o mail.
Depois foi lavar os dentes, vestir o pijama e deitou-se esperando que o sono não tardasse a vir. Estava já quase a dormir quando recebeu um alerta no seu cérebro.
Tinha assinado Carolina em vez de Catarina. E agora?
           - E agora seja o que Deus quiser. – Respondeu-se a si própria e adormeceu.




Comentários

Mensagens populares