Carolina 13



 Já estava atrasada para ir buscar o seu filhote à escola pelo que deixou o assunto para depois de todos estarem deitados. Deixou-o para a sua hora mágica.
A correr, pegou no casaco e na bolsa, despediu-se da colega e desceu para a rua.
Aí parou uns segundos para sentir o sol que já se estava a ir embora. Adorava aqueles dias de inverno em que o sol se dignava a aparecer mostrando que era Rei.
Depois, correu para o carro, com uma pontinha de remorsos por ter o filho à espera, e apressou -se a chegar à creche.
Quando lá chegou o seu filho já a esperava, ansioso, cheio de saudades, tantas saudades, que um abraço apertadinho e um cento de beijinhos embora as aplacassem um pouco, não conseguiam eliminá-las todas.
No caminho de carro para casa, ela a conduzir e ele sentado na sua cadeirinha no banco de trás teve lugar uma conversa sobre o dia do pequenito na escola, os seus queixumes e as suas vitórias expostas de uma forma crua e direta e inocente, como só as crianças sabem fazer, as quais receberam aprovações e correções da mãe que dividia a sua atenção entre elas e o trânsito.
Chegados a casa, foi a loucura da rotina, banhos para tomar, cão para cuidar, jantar para fazer e tempo para ler uma história à hora da cama.
Quando o seu marido, Rui, chegou já era tarde e Rita sentia-se cansada pelo que lhe pediu desculpa, mas naquele dia não lhe faria companhia, iria para a cama. Iria tentar ler uma página ou outra do livro que tinha na mesa de cabeceira e depois dormir. Quando ele chegasse, se ela já tivesse adormecido, ele que apagasse a luz por favor.
E assim foi, ou melhor, quase que assim foi, pois, estendida na cama, Rita ainda pegou no livro, mas não chegou ao fim da primeira página.  Sentia-se tão exausta que adormeceu sem ler o livro e o e mail…
A noite passou-se e Rita acordou maldisposta. Dores no corpo, temperatura alta e uma vontade de vomitar muito grande.
- O que tens? – Perguntou-lhe o marido assustado quando a viu sair da casa de banho, agarrada ao roupão e a tiritar de frio.
- Deve ser uma virose, nada de especial. – Respondeu ela começando a vestir-se.
- Mas o que estás a fazer? - Rui foi ter com ela e sentou-a na cama.
-Tenho de me vestir- Disse ela sem muita convicção.
- Não! Nem penses que vais trabalhar hoje. – Ele deitou-a a aconchegou-lhe os lençóis e o édredon.
- Mas...- Ela ainda argumentou.
- Não há, mas, nem meio, mas. Deixa-te estar deitada que eu trato de tudo. Ligo para o escritório também. Vou buscar-te o comprimido e um iogurte para beberes. Ou queres antes um chá?
- Um iogurte. - Respondeu ela agradecida e deitando-se novamente.
Como era bom ter alguém assim ao seu lado. – Pensou antes de voltar a adormecer.

Filipe ia todos os dias várias vezes à caixa de correio eletrónico para ver se tinha resposta da Catarina e cada vez que o fazia, ficava dececionado.
Ao fim de três dias sem resposta, convenceu-se de que ela tinha desistido fez um esforço para esquecer também, embora houvesse alguma coisa que lhe dizia para não desistir.
Entretanto a sua suspeita sobre o destino do suposto amante do crime, estava certa.
Ao consultar o obituário dos jornais da região não encontrará nada, mas a vida é feita de amizades e ele tinha muitas, por isso lembrou-se de recorrer a um amigo que trabalhava na morgue do hospital central e ...Bingo!
Tinha dado entrada um homem na casa dos 30 anos que tinha sido encontrado morto em casa. O vizinho da frente ouvira um estrondo estranho e não ligara, mas ao dar por falta do vizinho que impreterivelmente, todos os dias ia tomar café no seu estabelecimento que ficava ao lado do prédio onde moravam, e ao lembrar-se do ruído estranho que ouvira pela manhã, resolvera comunicar à polícia que o obrigou a esperar 48h antes de considerar o vizinho como desaparecido.
Ao findar as 48H, lá foram a casa do suposto desaparecido, e ao arrombarem a porta deram de caras com o homem deitado no chão no meio de uma poça de sangue. Já seco.
Filipe entusiasmado com a notícia, foi ter com o seu outro amigo, o da judiciária e perguntou-lhe se já sabia disto e se tinham relacionado os dois casos.
- Epá! Não. – Como é que soubeste disto? – Perguntou-lhe Topé meio admirado meio chateado por não ter sido um deles a fazer esta ligação.
- Tenho os meus contactos! – Foi a resposta vaga e gabarola de Filipe.
- Aí Sim? Então eu tenho as minhas restrições - Ripostou Topé bem-disposto.
-Touché- Riu-se Filipe, e contou-lhe como tinha chegado até ali.
- Muito bem, sim senhor. Tens a certeza de que não queres vir para a polícia? -  Brincou.
- Não, não longe de mim. Eu sou um simples revelador de notícias...- Filipe fez uma cara de pobre coitado.
- Não, agora a sério. – O rosto de Topé de repente tornou-se grave. – Vais parar com as investigações por conta própria. Já vi muitos como tu acabam mal.
- Mas também faz parte do meu trabalho. Chama-se reportagem de Investigação!
- Sim, mas esses repórteres de investigação trabalham em equipe, não são “free lancers” como tu. Tem uma rede de segurança por trás. Promete-me que te portas bem e eu prometo que te vou dando elementos para a tua história.
- Palavra de escoteiro? – Filipe fazia referência ao hobbie de Topé
- Palavra de escoteiro! - Respondeu-lhe fazendo o sinal escotista com a mão.
Filipe saiu bem-disposto. É claro que não iria parar de investigar, mas iria abrandar por uns tempos, o que lhe dava tempo de sobra para se dedicar a outras coisas, como por exemplo o “caso da saia da Carolina” como ele o batizara.
Assim foi até ao escritório da irmã, ver se ela estava e se tinha recebido alguma resposta, pois aquela ausência incomodava-o, ou melhor fazia soar os sininhos de alerta. Não acreditava que ela pura e simplesmente já não quisesse saber...
- Ou não queres acreditar…- Ironizou para si ao consultar o vazio de resposta que o monitor do ecrã lhe mostrava.
Chateado resolveu ir até ao jardim ver se tirava alguma informação nova relativamente ao outro caso.
Rita, entretanto, melhorara. Com chá e alguns comprimidos, um dia de molho e muito muito carinho do marido e do filho, rapidamente saiu da cama. E iria trabalhar se o marido não a chamasse à razão.
- Ouve – Dizia ele como se estivesse a falar com o filho- Ainda ontem estavas com 38.5 de temperatura, a tremer como varas verdes, sem te aguentares em pé. Hoje é sexta feira, fim da semana, ficas mais uns dias em casa para te recompores e segunda recomeças o trabalho em força, Hein? Que me dizes?
- Mas já me sinto bem…- Ela começava a amuar, tal como o filho quando era contrariado.
- Sim sentes-te bem aqui em casa, no quentinho e no sossego, quando fores lá para fora com o frio e o vento que está, apanhas uma recaída e depois não são dois dias que faltas, será uma semana...- continuou ele firme, mas pacientemente
- Achas? - Agora era a tristeza e não a casmurrice que falava.
- Acho. – Respondeu ele com firmeza.
Rita encolheu os ombros e suspirando foi para a sala.
- Anda Tim, ao menos tu entendes- me...








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