Carolina 10
Não
lhe apetecia nada, mas tinha de ganhar a vida por isso lá "meteu as mãos à
obra".
Ligou
para um amigo que trabalhava na judiciária e marcou um almoço com ele para
obter algumas informações.
Entretanto resolveu ir ao local do crime ver
se conseguia algum dado novo, falar com alguém que lhe desse alguma informação,
qualquer coisa...
Tomou
o seu duche, comeu uma taça com cereais e deixou o café para o jardim, talvez
ali conseguisse alguma informação. A senhora do café com toda a certeza que lhe
daria algum material que ele pudesse usar.
Antes
de sair de casa, porém, resolveu ir consultar os seus e mails. Entre os muitos
que recebeu houve um que lhe fez acelerar o coração.
-
Que estupidez! - Pensou ao mesmo tempo que o abria.
Leu-
o e releu-o e gostou do que leu. Atiçou-lhe a curiosidade! Iria falar dele à irmã.
Carolina,
entretanto, voltara a enfiar o nariz no documento, alheia ao olhar apaixonando
que Gabriel lhe lançava.
Ela
procurava um “Afonso” na sua vida e tudo o que assim não fosse ela simplesmente
não via.
Não
era por mal, era simplesmente cegueira, e era por isso que Gabriel a amava cada
vez mais, por ver nela uma sonhadora incapaz de magoar fosse quem fosse.
Quando
Filipe chegou ao jardim já a manhã ia alta.
Parou
um pouco, olhou em redor para absorver os pormenores e passado alguns momentos
decidiu-se por se ir sentar no café. Escolheu sentar-se na mesa mais perto do
quiosque e pediu um café e um pastel de nata. Assim que a empregada lhos
colocou na mesa, perguntou-lhe casualmente:
-
Este jardim é sempre assim tão calmo? É uma raridade no meio de uma cidade…
A
senhora riu-se e foi pronta na resposta:
-
Geralmente é, até há uma senhora que vem para aqui escrever quase todos os
dias, mas ontem…
-
Então? – Filipe incitou-a.
-
Então… - Ela baixou a voz e colocou uma cara de “caso” - Então não é que ontem
houve aqui um crime?
-
Um crime? – Filipe fingia que não sabia de nada, espicaçando assim a vontade
dela lhe contar tudo.
-
Sim… Deixe-me só servir aqueles senhores que já lhe conto tudo.
A
senhora serviu os outros clientes e depressa voltou para junto de Filipe. Com o
tabuleiro redondo de metal com uma publicidade a uma das bebidas na moda
estampada no fundo, e um pano de limpeza na mão, continuou a sua história.
-
Então veja lá o senhor, que uma senhora assim com os seus 30 anos, muito
bonita, morena de cabelos compridos, alta e muito elegante, estava ali sentada,
ali naquele banco, está a ver? – E apontou para um banco que se situava uns 100
metros à esquerda, por baixo de um castanheiro.
Filipe
olhou-o e acenou com a cabeça indicando que o via e registando mentalmente o
facto estranho de ali estar um castanheiro.
-
Então, a senhora estava sentada, e o marido.
-
Marido? Conhecia-os?
-
Sim, não, quer dizer sim…
Filipe
olhou-a com um ar inquisidor, mas sempre a incentivando a falar.
-
Quero dizer, eu conhecia a senhora. Ela vinha cá sempre com outro senhor, e eu
a princípio pensava que esse é que era o marido dela, mas… Espere só um pouco,
estão ali outros senhores…
Filipe
acenou mais uma vez, mostrando que compreendia, e pediu mais um café.
Desta
vez a senhora estava demorada, e para ocupar o tempo, Filipe lembrou-se de
ligar à irmã.
-
Olá, bom dia Siss.
-
Bom dia. Já acordaste? – Teresa brincava sempre com ele, pois quando moravam
com os pais, calhava-lhe sempre a incumbência de o acordar, para o almoço, pois
os pais não começavam a refeição enquanto não estivessem todos à mesa.
-
Já, já. E olha que estou a trabalhar para ti.
-
Como assim? Já soubeste mais alguma coisa do crime?
-
Estou a tratar disso, disso e da tua empresa.
-
Da minha empresa?
-
Sim da tua empresa, ou já te esqueceste que tens uma?
-
Ah, não, mas agora estou focada no livro…
-
Sim, mas parece-me que tens um novo talento.
-
Sim? Quem? – Teresa perguntou sem nenhum interesse.
-
Aquele e- mail que me mandaste apagar…
-
Sim? Não me lembro, podes tratar tu disso?
-
Claro, não é? Olha tenho de desligar…
A
senhora do café, que, entretanto, regressara e esperava junto à mesa tentava
não demonstrar que estava a ouvir a conversa. Filipe desligou o telefone e
colocou o seu ar mais simpático e angelical.
-
Então, onde ia eu?
-
Estava a contar-me como conhecia o casal.
-
Ah! Sim, não. Como lhe disse a senhora costumava passar a hora do almoço ali
sentada naquele banco com um outro senhor, muito bem posto. Comiam sempre
sandes e fruta e depois vinham aqui beber um café. Eram muito simpáticos e
pareciam um casal muito simpático. Até que…Oh só mais um pouquinho.
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