Matilda 7

Ao chegarem ao aeroporto, Miguel desesperou-se com o tempo que a mala de Josh demorou a aparecer no tapete rolante. Queria ir ter com o Fábio, saber da irmã, mas tinha de esperar pelo seu mais recente amigo e pela sua mala, e entendia que aquele assunto não era para ser discutido ao telefone.

Quando ela finalmente apareceu, levantou-se de um salto ( tinha-se sentado num dos vários bancos que ali estavam) e ligou para Fábio.

- Olá, Fábio. Onde estás? – Perguntou já a caminho da zona das chegadas.

- Olá Miguel. Estou mesmo junto à entrada. A Paula está aqui comigo.

- Boa, boa. Estou mesmo a chegar. – Desligou.

Depois virando-se para Josh, agradeceu-lhe mais uma vez a disponibilidade que ele mostrara para ajudar, e questionou-o sobre os honorários.

- Ora…Já te disse que não é nada. Preciso de uma desculpa para sair de casa.

- Não. A sério! Assim não. Agradeço muito a tua ajuda, mas tens de me deixar recompensar-te pelo teu trabalho. – Miguel não gostava de ficar a dever nada a ninguém.

- Qual trabalho? Eu ainda não fiz nada.

- Miguel! – Chamou-o Fábio.

- Miguel! – Chamou-o Paula. – Estamos aqui!

Miguel aproximou-se com Josh a seu lado e fez as apresentações.

- Josh, estes são o Fábio e a Paula, amigos e colegas da minha irmã.

- Este é o Josh, um psicólogo criminal que conheci no avião e que se ofereceu para nos ajudar. – Disse virando-se para eles.

- Muito prazer! – Cumprimentaram-se todos.

- Peço desculpa, mas tenho um tio à espera para me levar a casa. Poderemos encontrarmo-nos amanhã? – Josh fazia sinal a um senhor para esperar um pouco.

- Claro que sim. – Respondeu Miguel pelos três.

- Onde estão hospedados? Irei lá ter, pelas 16.00H? – Josh pegou na mala, que, entretanto, tinha pousado.

Trocados os contactos, despediram-se e Miguel, ansioso por saber notícias, sugeriu-lhes sentarem-se no café mais próximo para falarem.

- Pode ser. – Assentiu Fábio. – Nós já reservamos quartos para os três num hotel aqui próximo, e já alugámos um carro. Não queres antes falar lá?

- Não. Quero saber pormenores do que se passou e depois ir ter com o chefe de segurança do aeroporto. Alguém me há-de dar alguma justificação e informação…

- O quê?! – Miguel insurgiu-se após estar inteirado de tudo o que se passou. – Isso claramente viola os direitos de um cidadão. Agrediu-a?! – Sentiu-se a ficar descontrolado. – E a ti também? Vamos apresentar queixa crime! – Levantou-se, deixando cair a cadeira com o movimento brusco.

- Não, não vamos. Calma! – Fábio obrigou-o a sentar-se.

Dois seguranças, entretanto, aproximaram-se.

- Está tudo bem. – Disse-lhes Fábio. – Foi só um mal entendido. Não foi Miguel?

Miguel assentiu com um sorriso forçado.

- Mas, tens a certeza de que a estatueta saiu do forro da mala?

Miguel estava verdadeiramente surpreso. A irmã nunca tinha feito aquilo. Ela furtava e devolvia, não se dava ao trabalho de esconder as coisas. Aliás, depois de as tirar das lojas perdia todo o interesse nelas. E além do mais tinha-lhe prometido que não tornaria a fazê-lo!

Sem se aperceber tinha refletido em voz alta.

- Mas que dizes? Já não é a primeira vez que ela rouba? – Fábio espantou-se.

- Mas quem é que te disse que ela roubou? – Paula insurgiu-se.

- E quem é este? – Fábio referia-se a Josh. – Porque é que precisamos de um psicólogo criminal? E como é que ele nos pode ajudar?

Miguel suspirou fundo.

- A minha irmã, quando os meus pais morreram, ao que parece, e segundo o Josh, desenvolveu uma espécie de cleptomania. Ela de vez em quando roubava coisas das lojas lá do bairro.

- Mas depois devolvia-as. – Apressou-se a dizer perante os olhares escandalizados deles. – Ela não tinha interesse nos objetos, era apenas o desafio de roubar. E eu nunca percebi o porquê, e zanguei-me sempre com ela, mas o Josh hoje explicou-me que às vezes isso acontece após um trauma grande, é uma maneira de o inconsciente lidar com a dor. É um bocado retorcido, mas acontece.

- Pobre Matilda. – Comentou Paula.

- Mas o que importa salientar, é que isto é uma mania, uma doença. As pessoas tiram coisas por impulso, e são geralmente coisas pequenas, sem grande valor…

- Mas a estatueta não se encaixa nesse padrão. – Refletiu Fábio que tinha estado calado a absorver tudo o que ouvia.

- Não, pois não? – Miguel já tinha chegado a essa conclusão. – Bem vou ter com o chefe de segurança. Esperem aqui que já volto.

Levantou-se e dirigindo-se aos dois seguranças que anteriormente os tinham interpelado, perguntou-lhes como poderia falar com o seu superior. Desconfiados, quiseram saber o motivo, alegando que o seu superior era um homem com muitos afazeres e responsabilidades e não poderia ser abordado por qualquer um.

Puxando dos “galões”, Miguel identificou-se como advogado da senhora Matilda Pereira, que tinha sido detida nessa manhã, e queria saber pormenores acerca da sua detenção.

Os homens entreolharam-se, e usando um walkie talkie comunicaram em árabe com algum superior. Ficaram depois a aguardar a resposta.

Miguel não percebeu o que disseram e tentava adivinhar na linguagem corporal e facial, o decorrer da conversa.

Passados alguns segundos, fizeram-lhe sinal que os acompanhasse. Levaram-no pelo meio do aeroporto, até a um elevador. Depois, chamaram o aparelho, e quando ele chegou, fizeram-no entrar. Carregaram no  nº 3 e ficaram de fora a ver as portas fecharem-se e o elevador a subir.

A subida foi rápida e não deu tempo a Miguel para pensar no que quer que fosse. Ao chegar ao terceiro piso, as portas abriram-se automaticamente, e à sua espera estava um homem novo, com cerca dos seus 40 anos, vestido à ocidental, de fato e gravata, barba e cabelos bem aparados.

Cordial, estendeu-lhe a mão num sorriso

 



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