Matilda 3

- Sim, o que é que tem?

- Digamos que…

- Nãoooo!

- Siiimmm!

Entretanto o elevador chegou, e elas entraram. Lá dentro vinham outros hóspedes.

Elas entraram para o fundo e como duas adolescentes comunicavam por risinhos e olhares interrogativos e acenares de cabeça que levavam a olhares de “não acredito”, que por sua vez levavam a olhares de “sim, acredita”.

Pelos espelhos os outros passageiros olhavam-nas interrogativos.

Chegadas ao piso zero, o guarda costas de Paula esperava-as. Seria um dos que os acompanhariam ao aeroporto, e que garantiriam que tudo correria bem.

Com um olhar atrevido de Paula, e um olhar envergonhado de Matilda, ele cumprimentou-as e prontificou-se a levar as malas delas para o carro, enquanto elas tomavam o pequeno almoço.

- Agora vais contar-me tudo. – Matilda intimava Paula que se sentava em frente dela na mesa que escolheram para desjejuar.

- Bem para ser sincera nem sei bem como tudo começou. Acho que foi na última noite do deserto, anteontem. Estava deitada ao lado dele a ver as estrelas, tu já te tinhas ido deitar, e senti algo a mexer-se por baixo de mim. Era um bicho esquisito. Apanhei um susto do caraças e gritei chegando-me para cima dele.

- E? – Incentivou-a a continuar quando ela fez uma pausa para comer um pedaço do croissant e beber um gole de sumo de fruta.

- E, bebe o teu café. Anda. Daqui nada chamam-nos e sabe-se lá quando é que voltamos a comer.

- E? – Insistiu ela fazendo a vontade à amiga bebendo um gole de café e dando uma trinca no pão.

- E, sabes o que dizem dos árabes?

- Mais ou menos…

- Pois…É isso e muito mais… - O ar sonhador dela não deixou qualquer dúvida na imaginação de Matilda que ficou feliz pela amiga. Ela merecia. Era uma boa amiga…

- Hum, hum. Mas lá no deserto?

- Lá, debaixo das estrelas e cá debaixo dos lençóis.  - Levantou-se para ir embora.

- Vamos! Já estão a ir… - Alertou-a.

Levantaram-se, e juntaram-se ao resto do grupo que já estava no hall pronto para entrar para as carrinhas.

A viagem para o aeroporto decorreu animada.

Todos estavam com saudades das famílias e todos tinham histórias para contar, as suas impressões daquele mundo tão diferente dos seus e foi assim um grupo animado e bem-disposto que chegado ao aeroporto se dirigiu para o check in.

As bagagens de porão ficaram a cargo dos representantes árabes e o grupo liberto desse encarrego, decidiu ir dar uma volta pelo aeroporto, uns indo para as lojas, outros para os cafés.

Paula, porém, ficou para trás.

Queria despedir-se convenientemente do seu guarda-costas, esquecendo-se do lugar onde estava e da mentalidade de com quem lidava.

Confiante, dirigiu-se para ele, mas, quando lhe pôs os braços ao pescoço para o beijar, sentiu, com surpresa um empurrão e um estalo no rosto, acompanhado de palavras que não percebeu, mas que lhe soaram duras.

Matilda que a tudo tinha assistido, voltou para trás, sem pensar duas vezes, e para defender a amiga, que caída no chão, levava a mão ao rosto vermelho, empurrou o homem, e insultou-o em português, em francês, e em inglês, conforme a ira dava voz às emoções.

Viu-se então agarrada pelos braços e levada para uma sala por dois seguranças do aeroporto que com cara de poucos amigos enxotavam os colegas que a tentavam defender.

Uma vez na sala, e com a raiva a ceder lugar ao medo, ela pediu desculpa, explicando que só tentava defender a amiga. Um dos seguranças, o que tinha ficado encarregue dela, um homem dos seus 60 anos, mal-encarado e agressivo, encostou-lhe o bastão ao rosto e falou-lhe em árabe.

- Eu não percebo… - Gemeu ela assustada.

Depois, lembrando-se que eles falavam francês, repetiu:

- Je ne comprend pas…

O homem, ignorou-a, e dirigindo-se para um funcionário do aeroporto, deu-lhe uma ordem em árabe. O homem saiu da sala.

Cada vez mais assutada, Matilda resolveu apelar aos seus direitos.

- Eu quero fazer um telefonema. – Ordenou num francês arrevesado.

O segurança riu-se. Um riso de gozo. Aproximou-se dela e sem que ela esperasse deu-lhe um estalo com toda a força.

- Aiii. – Gritou ela levando instintivamente a mão ao rosto. – Mas o que é que?...

- Isto é pelo meu compatriota. – Respondeu eu finalmente em francês. – E é melhor estares caladinha, ou…


 

 

 


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