À medida que avançava no caminho, a sensação de que ela talvez os tivesse visto tornava-se mais forte. Lembrou-se de ligar à Alexandra e tentar apurar se ela sabia de alguma coisa, se elas as duas sempre se tinham encontrado, mas depois da saída desastrosa que tivera, achou melhor ficar quieto. O melhor era ligar à Júlia e saber por onde ela andava.

Pegou no telefone, e reparou que estava desligado.

- Raios! – Praguejou em voz alta. – É tudo a ajudar!! – Ironizou.

Irritado pelo tempo que o aparelho que o aparelho demorava a ligar, resolveu voltar para trás e ir em direção ao farol.

Se ela os tivesse visto, como achava que sim, era provável que fosse para lá. Afinal, ela era portuguesa, e toda a gente sabe que os portugueses estão ligados ao mar. Estugando o passo, guardou o aparelho no bolso, depois de fazer os procedimentos necessários para o ligar, e caminhou em direção à praia. Ainda era um bocado longo o caminho, pelo que, pensando melhor, resolveu fazer um desvio e foi a casa buscar a bicicleta. Sempre poupava tempo e as pernas, que lhe doíam depois da corrida da manhã.

Ao montar na bicicleta, sentiu o aparelho a vibrar. Era sinal de mensagem. Temendo que fosse a Alexandra não ligou. Não estava com paciência para lidar com aquilo agora.

Agora, a sua urgência era encontrar Júlia. Montou a bicicleta e começou a pedalar, esquecendo-se da decisão que tomara de lhe ligar a perguntar onde se encontrava. Estava certo de que ela estaria lá.

Não tinha ainda passado uma hora quando, chegado à praia, viu o carro dela estacionado junto ao pontão.

- Bingo! – Regozijou-se. – Ainda bem que decidi vir aqui.

Desmontou-se do biciclo e prendeu-o com um cadeado a um dos postes de luz, que ladeavam o parque de estacionamento. Depois, parou um pouco e olhou para o fundo, vislumbrando o farol e tentando perceber se ela lá estaria. Não viu nada.

- Pode estar atrás. – Pensou enquanto começava o caminho. - O mar está tão agitado. – Observou para si. - É perigoso. E se uma onda a leva? Não está lá ninguém para a socorrer…

Aflito, resolveu-se a ligar-lhe, enquanto apertava o passo. De repente sentiu uma urgência de saber se ela estaria bem. O telefone, porém, dava sinal de desligado.

- Raios! – Praguejou mais uma vez, e voltando a guardá-lo no bolso, correu feito um louco os poucos metros que separavam o farol do início do pontão.

- Júlia! – Gritava pelo caminho.

- Júlia! – O vento devolvia-lhe o chamamento.

- Júlia! – Insistia ele.

- Júlia! – Insistia o vento.

- Júlia! – Ela ouviu o seu nome. – Júlia! – Era a voz dele?

Levantando-se, deu a volta e viu-o a correr, a acenar, a gritar o seu nome.

- James? – Disse em voz baixa. – O que fazes aqui?

- Júlia! – Ele abeirou-se dela e abraçou-a com toda a força que tinha. – Júlia! – Repetia sem conseguir dizer mais nada.

Emocionado, ele trouxe-a para o areal, onde a sentou e se sentou a seu lado.

- Pensei que uma onda te tivesse levado! – Disse por fim.

- Era o melhor que podia acontecer. – Respondeu-lhe ela magoada.

- Não digas disparates! – Ralhou-lhe ele suavemente.

- Eu vi-vos.- Acusou ela. – Depois do que eu te disse, como achas que me sinto? Vieste por pena? Não preciso disso. – Os seus olhos sempre tão meigos, agora chispavam fúria.

- O que viste foi um mal entendido. – Ele ainda tentou dizer.

- Foi. Foi um mal entendido da minha parte. Nem sequer te dignaste a responder à mensagem. Podias tê-lo feito e evitar que eu me humilhasse daquela forma.

- Mensagem? Qual mensagem?

Ela não lhe respondeu. Virou o rosto demasiado irritada.

- Júlia. Qual mensagem? – Virou-lhe o rosto para ele.

Como ela continuava sem responder, ele lembrou-se de repente do sinal luminoso do seu telemóvel.

- A mensagem! – Pensou.

E pegando nele, clicou no botão de mensagem de voz. Depressa se ouviu a dela.

- James! Resolvi ligar-te…

Ela levantou-se de um salto e arrancou-lhe o telemóvel da mão.

- Pára! Já chega! – Atirou-o para longe.

Mas o vento, esse cúmplice dos Homens, e uma força da natureza, fez o som das palavras  dela chegar até eles.

- Amo-te, e se me deres uma chance…

- Júlia! – Ele abraçou-a, fazendo força para a prender, já que ela esbracejava e chorava enraivecida.

- Pára! – Dizia-lhe ela. – Pára! Já te disse! Não quero piedade!

- Pára tu e ouve-me! Eu amo-te, Júlia! Amo-te com todas as minhas forças. Eu não ouvi a tua mensagem. Juro! – Ele tentava-a segurar, enquanto ela tentava fugir. – E aquilo que viste foi um engano. Era a tua boca que os meus lábios procuravam, não a dela.

- Amo-te! – Disse-lhe mais uma vez.

- Beijaste-a?! – Ela parou ao ouvir isto.

- Não viste? – Ele sentia que tinha feito asneira mais uma vez.

- Beijaste-a? – Repetiu.

- Não. Ela é que me beijou.

- Como foste capaz? – Surda ao que ele lhe dizia, ela extravasava o que sentia.

- Ouve-me. – Pediu-lhe ele. – Ouve-me! – Insistiu perante o abanar da cabeça dela e o olhar furioso. – Era a ti que eu queria beijar!

E sem a deixar responder, segurou-lhe o rosto e encostou os seu lábios aos dela. Primeiro suavemente, com delicadeza, depois, e à medida que o desejo avançava, encontrou na urgência dela, a vontade e a força e ali, no meio da areia, tendo o mar como testemunha, ele entrou no mundo dela, e ela aceitou-o sem reservas…

Afinal de contas, o amor vence tudo!



 

 


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