Simão 7



O dia começou com um sol que abraçou Rosária.
Era o seu dia de anos e embora ninguém o soubesse, nem a parabenizasse, ela sentia-se muito feliz. Tinha chegado até ali!!! Tinha uma “vida”, e não dependia de ninguém.
No lar, ao ir ao bar, encontrou Simão a comer uma tosta com um ar esfomeado e riu-se. Pegou num tabuleiro, tirou um café e uma sandes e foi ter com ele.
- Bom dia, comilão!!!
Simão engoliu à pressa o pedaço que tinha na boca e engasgou-se.
- Calma rapaz! Estás esfomeado! – Gracejou- Até parece que não comes há dois dias!!
- Há dois não, mas há três...
- Há três dias que não comes? Que conversa é essa?!
- Bem, não como é uma maneira de dizer...A minha mãe teve de ir uns dias para a terra, para tratar da minha avó, e a comida que ela me deixou feita já se foi...
- E então? Como é que tens feito? - Rosária perguntou divertida.
- Olha, batatas de pacote, e salsichas e pizzas... Já não as posso ver à frente!!!
- Sério?! E cozinhar comida saudável, não?
- Achas?! Eu sou um pobre rapaz do campo... Não sei nada de cozinha...
- Tadinho...- Rosária gozou com ele esfregando-lhe a cabeça.
- Está quieta que ainda me despenteias!!! - Resmungou ele.
- Ah! Pois...Isso é que não pode ser... -  Ela fez uma cara horrorizada.
Riram-se os dois, e recomeçaram a comer.
- Olha! - Disse Rosária passado um bocado. - Estás sozinho esta noite?
- Hum, Hum. - Acenou ele com a boca cheia de comida.
- Então queres ir jantar lá a casa?
- Hum, hum- Ele acenou com mais força para dar ênfase ao seu "sim".
- Comida a sério?! Não pizza, nem salsichas? – Os seus olhos tinham um ar divertido.
- Na minha casa não entra essa comida herege! – Respondeu ela com um ar dramático.
Ele fez um ar pensativo, como que precisa de refletir bem sobre o assunto e quando viu que ela já estava a perder a paciência disse por fim com um sorriso largo:
- Pode ser!
- Boa! - Disse ela levantando-se. - Agora...trabalho, que é para isso que te pagam...
- Pagam? – Retrucou divertido.
- Em experiência… - Riu-se ela. E saiu da mesa. Já à porta da sala, virou-se para trás e disse-lhe:
- E prepara-te! Vais cozinhar...
- Glup! - Como assim cozinhar?
Mas ela já ali não estava para responder.
A noite chegou e Simão bateu à porta de Rosária, nervoso.
Era a primeira vez que ia a casa dela, e tinha de cozinhar? Ele não percebia nada disso.
Lembrou-se a tempo que a mãe lhe tinha ensinado que quando se é convidado para jantar a casa de alguém, se deve levar sempre uma prenda ou uma garrafa de vinho.
Como uma garrafa de vinho, ninguém lhe vendia por ser menor, e de flores ele também não percebia nada, e achava ridículo andar de transportes públicos de ramo na mão, resolveu comprar-lhe uma prenda.
Assim, quando saiu foi “às compras”. Andou pelas lojas do centro comercial, mas tudo o que via ou era muito caro ou não sabia se era adequado ou se ela iria gostar ou não. Estava a começar a desesperar e até a pensar em desistir, quando viu numa banquinha uma miúda que vendia uns colares e umas pulseiras, feitos por ela.
Olhou para eles e achou-os engraçados. Esperou que ela atendesse uma senhora e perguntou o preço. Perfeito! Agora era só escolher.
Fio ou pulseira? Optou pelo fio. Viu um fininho que tinha um anjinho. Gostou dele.
- Olá! Vens pronto para a tua tarefa? - Rosária recebeu-o com um sorriso divertido.
Ele corou, fez um sorriso parvo e entrou sem falar. Atrapalhado nem se lembrou do colar.
Fechando a porta, ela, fez-lhe um tour pela casa que era pequena, mas agradável.
Acabaram na cozinha onde ele viu uma bancada cheia de comida e tachos e panelas.
- Está tudo pronto. Vamos começar? Podes largar o casaco, homem.
Ele sorriu. Aos poucos ia descomprimindo…



Comentários

Mensagens populares