Simão
Simão
era jovem.
Tinha
17 anos, um corpo musculado e uma cabeça bonita. Um rosto redondo, sardento com
olhos verdes e caracóis castanhos claros, que ele deixava crescer ao sabor da
moda.
Era,
como se diz na gíria, um pão!
Extremamente
inteligente, era, como todos jovens, também teimoso e orgulhoso, e depois do
pai ter saído de casa, decidiu não se dedicar ao estudo, isto porque, era o que
o pai mais queria, que ele estudasse e fosse “alguém”.
Então,
quando ele saiu de casa, decidiu magoá-lo como ele o magoara no dia em que
batera a porta e saíra, e ficara sem dar notícias 3 longas e dolorosas semanas.
Era a sua vingança…
Ao fim
deste tempo o pai aparecera com a notícia de que queria o divórcio, pois queria
uma vida mais livre, queria poder aceitar as propostas de trabalho para o
estrangeiro que até agora sempre recusara por causa deles.
E
saiu. Sem olhar para trás.
Esta
era pelo menos a visão de Simão que como todos os jovens era duro a julgar os
adultos e a criticar coisas que não compreendia na totalidade.
Mas,
verdade seja dita, esse foi ano duro para todos.
Todos perderam,
mas Simão foi quem mais perdeu.
Perdeu
o pai que se mudou para o estrangeiro, perdeu a mãe que se entregou aos
comprimidos para tratar a depressão, perdeu a casa porque se tiveram que mudar
para uma mais pequena e perdeu os amigos pois com a mudança da casa veio a
mudança do bairro e da escola.
Aos 15
anos, com a cabeça quente e o coração desorientado, Simão escolheu as piores
companhias, e tomou as piores decisões, coisas que a mãe embotada pelos
comprimidos e pela dor não viu.
Assim,
Simão cresceu nas ruas entrando e saindo de sarilhos nunca se metendo, porém, em
nada de grave devido à sua inteligência e à formação que os pais lhe tinham
dado enquanto juntos. Tornara-se, no entanto, conhecido do chefe de polícia da
esquadra do bairro que lhe adivinhando o potencial, nunca lhe fez cadastro,
deixando-o ir com advertências e promessas de que se iria “endireitar”.
E tudo
corria, nem sempre pelo melhor, mas corria, até que um dia, o chefe da polícia
se reformou e Simão foi dar de caras com um novo chefe.
Novo
em idade e novo no bairro e novo na profissão. Querendo “mostrar serviço” era menos
tolerante que o seu antecessor.
O que
Simão fizera não tinha sido grave, mas ele tinha 17 anos e uma longa lista de
repreensões pelo que este chefe não estava muito pelos ajustes. Valeu-lhe, mais
uma vez, o antigo chefe que falando com o novo conseguiu chegar a um
compromisso.
Simão
não teria cadastro, mas teria de fazer trabalho comunitário diariamente durante
6 meses. Se falhasse um dia que fosse, iria ser presente a juiz.
-
Simão. – Chamou-o o chefe antigo – Desta vez é a sério, não te poderei ajudar
mais daqui para a frente.
- Sim
chefe. – Respondeu cabisbaixo.
-
Ficou acordado que irás trabalhar como auxiliar no centro de idosos da junta.
Começas segunda-feira. Até lá tenta não te meteres em mais sarilhos. Já falamos
com a tua mãe que autorizou e preencheu os papéis.
-
Segunda? Mas e então a escola? – Simão tentava dar a volta.
- A escola,
a escola! Sabes bem que o ano está perdido. Para o próximo pode ser que te
apliques e passes. E também sabes que és capaz se quiseres. - Respondeu-lhe num tom de quem não autoriza réplica.
Simão
baixou a cabeça e nada disse. O chefe, com pena, aproximou-se dele e deu-lhe um
murro amigável no ombro. – Vá lá. Sei que és capaz! Não me desiludas…
Ao
ouvir esta última frase, Simão levantou os olhos e encarou-o.
Dos
seus olhos saia uma raiva contida, mas não era contra ele, era contra o pai.
É que
sem saber, o chefe acabara de lhe dizer a frase que o pai lhe dissera quando
saíra de casa e isso ele nunca iria esquecer…
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