Carolina 23


- Ó mulher o que é que tu tens? - Sofia abraçou a Carolina por trás da cadeira onde esta estava e deu-lhe um beijinho na testa.
- Oh! Não tenho nada. - Disfarçou.
- Tens, tens. Andavas tão entusiasmada com aquilo dos contos, e agora tens uma "cara de chupa limão "...- Brincou.
Sentou-se em cima da secretária dela, e desviando-lhe suavemente o rosto do ecrã do computador, obrigou-a a olhá-la.
- Pois...- Carolina suspirou.
- Pois o quê?
- Liguei para lá, porque já não me diziam nada há bastante tempo e responderam-me que estava tudo em “stand by” porque o Filipe teve de se ausentar.
- E? -  Sofia não estava a perceber.
- E acho tudo muito estranho. Ele não se ia embora sem me dizer nada.
Gabriela saiu da mesa e rodopiou à frente dela.
- Ui, ele não se ia embora sem me dizer nada. – Imitou-a num gesto dramático. – Já estamos nesse ponto?
- Poh! – Gabriel deixou cair o livro que tinha em cima da mesa.
Elas assustaram-se e viraram-se vendo-o muito atrapalhado a levantar o livro do chão.
- Não vais dizer que foi o vento, pois não? – Sofia picou-o.
Ele olhou- a com um ar carrancudo, mas não respondeu à provocação. AO invés disso perguntou a Carolina.
- Dizes que Filipe desapareceu?
Ela levantou-se e foi até à estante e tirou de lá o segundo volume do livro que ele tinha em cima da mesa. Estendeu-lho.
- Acho que o que procuras está neste volume.
- Obrigado. Mas, não pude deixar de ouvir, o que aconteceu ao tipo dos livros? – Insistiu.
- Não sei. – Carolina estava mesmo desanimada. – Aparentemente teve de se ausentar, mas acho tudo estranho.
Gabriel levantou-se e dirigiu-se para a porta.
- Hei, onde vais? – Perguntou ela.
- Vou à casa de banho. Volto já.
E saiu porta fora. Assim que se encontrou no átrio, pegou no telefone e ligou a Rosa.
Filipe, acordou bem-disposto. Já tinha falado com a irmã que tinha aprovado o projeto dos contos e ia agora falar com um amigo que era ilustrador.
 Abriu a porta do prédio e saiu.
Estava um dia chuvoso, mas isso não o incomodava. Estava feliz e com a cabeça nas nuvens. Estava tão aéreo que não reparou em dois homens mal-encarados que o seguiam.
Andou uns 200 metros, sempre perseguido e quando parou numa montra para ver uns sapatos, sentiu uma coisa pontiaguda encostada às suas costas e uma voz a falar-lhe ao ouvido.
- Calma. Calminha. Não te vires, nem faças movimentos bruscos. Vem connosco como um bom menino e nós não te fazemos mal.
- Mas…- Tentou virar-se.
Uma pancada no pescoço, obrigou-o a ficar quieto.
- Já te disse pá. Tu e eu agora somos os melhores amigos. Vens comigo ou não? Olha que sabemos onde moras.
- Eu não tenho medo. O que queres? – Perguntou Filipe com voz cerrada.
- Olha, olha. Ó Manel, temos Homem. Será que a irmã dele também é Mulher?
Riram-se os dois à gargalhada, deixando ver numa boca escondida por baixo da barba, vários dentes cariados e algumas zonas com falhas.
- Mas o que vem a ser isto? – Filipe virou-se.
Levou um bofetão.
- Já te disse para seres obediente. Vá vamos lá em frente se não queres que a tua irmã sofra nenhum…acidente.
A mente de Filipe raciocinou à velocidade da luz. Ou…do pensamento?
- Ok, OK. Digam-me ao menos do que se trata. Querem dinheiro? É isso? Querem ir ao multibanco?
- Olha, olha. – Disse o homem que tinha a faca apontada, agora à barriga, de Filipe. – Ó Manel, queres ver que vamos receber duas vezes? Que dizes a isto hein?
- Duas vezes? Mas vocês foram pagos? Por quem?
- Vamos, vamos que já está gente a olhar.
Seguiram os três em fila indiana, com Filipe no meio, e foram até um carro pequeno e preto, estacionado perto da porta de Filipe.
Quando lá chegaram, o que se chamava Manel, abriu a porta de trás e obrigou Filipe a entrar, seguido do outro que dava pelo nome de “Quim”.
Quem visse a cena por fora pareciam 3 amigos a entrarem para um carro.
Manel sentou-se ao volante e Quim, atou as mãos de Filipe e colocou-lhe uma venda nos olhos. Tal como nos filmes de má qualidade que eles viam sem cessar, e de onde tiravam a inspiração para os crimes que cometiam.
- Vá lá rapazes. É mesmo preciso isto? – Filipe ainda tentou argumentar, mas um outro bofetão fê-lo perceber que era melhor estar calado.
Andaram. Pelas contas de Filipe aí uma hora, virando e revirando o carro, de tal modo que ele perdeu a noção por ondem iam. Quando pararam, tiraram-no do carro e ele começou pela primeira vez a temer pela vida. Até aí estava atordoado e a tentar perceber o que se estava a passar.
Ajudaram-no a sair e empurrando-o, levaram-no para o que parecia ser uma garagem. “atiraram-no “lá para dentro e o Manel, que era o homem “das falas”, disse-lhe:
- Agora porta-te bem, que nós já vimos. Quietinho e caladinho, senão…cortamos-te a língua!
- Pum! – O som da porta a fechar-se foi a última coisa que Filipe ouviu.







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