Carolina 24
- Mas quem me manda a
mim, sapateiro, tocar rabecão? Estava eu tão sossegadinha na minha vidinha…
Mas pelo Gabriel ela
fazia fosse o que fosse preciso para ele ficar bem. Detestava ver aqueles olhos
meigos, tristes.
Era nestas alturas que
ela chamava a vida de madrasta. Não lhe dera estudos nem educação para chegar
ao nível de um anjo como o Gabriel, mas dera-lhe um coração grande e burro que
só se apaixona por quem não deve. Devia ter sido feito cega!
- Ou muda! - Disse em
voz alta sem disso se aperceber.
- Hein? Mudo o quê? -
Perguntou-lhe p patrão que ouvira, mas não percebera.
- Muda...Muda o filtro
da água da máquina do café, que já te disso isso há 3 dias!!- Respondeu-lhe
Rosa irritada.
- Xiça, que ultimamente
não se pode falar contigo rapariga. Mudo já!
E virando-lhe costas
foi em direção a máquina do café para mudar a peça.
Rosa olhou para ele e
arrependeu-se. Não tinha o direito de o tratar assim. Teve quase para ir
ter com ele e pedir-lhe desculpas, mas ao lembrar -se do motivo pelo qual lhe
respondera torto, voltou a bufar e levantando o braço no ar, como que diz
"esquece" virou costas e foi para a cozinha preparar os caracóis para
mais logo.
Entretanto Filipe
começou a tremer. Não percebia o que se estava a passar.
Pela sua cabeça
passavam-lhe todos os acontecimentos dos últimos dias, as pessoas novas que
tinha conhecido, as situações novas em que se metera, o que tinha feito de
diferente ou não, e não conseguia encontrar nenhum motivo para estar ali. Naquela
situação.
Terão sido os tipos do
marido que matou a mulher? Mas ele ainda não tinha publicado nada, e desde que
o amigo lhe pedira, tinha -se mantido quieto.
Rapto por dinheiro
também não era. Não tinha nenhum. Nem a sua irmã. Bem, ela tinha algumas
economias era certo, mas nada que justificasse um rapto.
Apurou os ouvidos e o
olfato tentando encontrar algo que lhe desse uma pista acerca do local onde se
encontrava.
Estava nisto quando
ouviu a porta a abrir e a fechar-se.
Instintivamente
endireitou-se na cadeira a que o tinham amarrado e esperou.
Ouviu os passos de
alguém vir até si e quando esperava alguma agressão surpreendeu-me com o que
ouviu.;
- Ouve. - Disse a voz
do homem. - Mantem-te sossegado que nós não te fazemos mal. Só tens de te afastar
da mulher, percebes?
O raciocínio de Filipe
trabalhava à velocidade da luz. Era o outro, aquele que estava sempre calado.
Tinha quase a certeza. Mulher? Que mulher?
- Que mulher? -
Perguntou verdadeiramente surpreso.
- Não te faças de
parvo. É pior para ti. Olha que o “mangas” não tem a paciência que eu tenho.
E saiu de ao pé dele,
indo em direção à porta.
- Espera! - Gritou
Filipe. - Que mulher?
Mais uma vez o bater
da porta foi a sua resposta.
Gabriel apareceu no
café um pouco transtornado. Não a vendo, perguntou por ela.
- A Rosa saiu, mas não
deve tardar. - Respondeu-lhe “rodinhas”. - Senta-te e come uns caracóis com uma
sagres.
- Obrigado. Mas só
quero a cerveja. Vou esperar aí por ela.
E em passo decidir foi
até uma mesa junto à janela. Não estava sentado a muito tempo quando a viu vir
no fundo da rua. Vinha a bambolear-se, rindo- se dos piropos que recebia e
cumprimentando com um sorriso aberto um ou outro conhecido que por ela passava.
- É bem jeitosa. -
Pensou Gabriel. - Pena...
Rosa entrou e mal
se acercou do balcão, “rodinhas”, disse-lhe que o Gabriel estava a sua
espera, na mesa junto a janela. Ela virou-se e sorrindo-lhe aproximou-se.
- Então meu lindo.
Querias falar comigo?
- Sim. Senta-te por
favor. - Gabriel indicou-lhe a cadeira em frente.
Comentários
Enviar um comentário