Lua 12

 

- Hein? – Fernando não percebeu. Estás a dizer o quê?

- Estou a dizer que dentro de um ano ou pouco menos serás tu na praia com o teu filho pelas mãos.

- Espero eu… - disse para si própria.

Pronto estava dito. Agora não havia como voltar atrás. Ou havia?

Ele deu um salto como se tivesse recebido o impacto de uma bomba e Lua arrependeu-se de ter falado. Se calhar era melhor dizer que se enganara, que era só um sonho, uma previsão tola, qualquer coisa…

- Estás a querer dizer que…- Levava as mãos à cabeça alisando os caracóis que pareciam ter ganho vida própria.

- Estás a querer dizer-me que… - repetia-se e apontava para a barriga dela incapaz de pronunciar as palavras.

Ela sem saber ao certo o que significava aquela reação, acenava com a cabeça confirmando aquilo que ela achava que ele tinha percebido, enquanto preparava uma desculpa para o caso de a coisa dar para o torto.

- Óh meu Deus! ÓH MEU DEUS! – Gritou, finalmente, ele de alegria. E voltando para ela, levantou-a num abraço e rodopiou com ela pela praia abaixo rindo como um louco ao mesmo tempo que gritava:

- Vou ser pai. Vou ser pai!

Lua com os nervos a descarregarem e com a alegria da reação, ria e gritava com ele.

- Vamos ser pais, vamos ser pais.

À noite, quando deitada enroscada nos braços dele, ouvia o seu ressonar suave e se deixava embalar por ele, sonhou que estava na lua. A passearem os dois pelas montanhas lunares, enquanto que mais à frente corria um menino que atirava um pau para o piloto que, feliz da vida, o ia buscar e voltava com ele para que a brincadeira se repetisse vezes sem fim.

Nessa noite Lua soube que tudo estava bem.

E de facto, as coisas pareciam estar bem. Decidiram casar-se juntamente com a irmã, poupando trabalhos e despesas. Assim eles o aceitassem. No dia seguinte, logo pela manhã, falaram com eles que de pronto aceitaram a ideia e se prontificaram a tratar por eles das burocracias, pois já tinham a prática toda, e nem mesmo o facto de terem de adiar o casamento por mais dois meses devido a essas burocracias foi um problema para alguém.

Lua, entretanto, iria terminar o curso em lisboa e Fernando iria insistir com a transferência para o continente. Agora face a esta nova situação de certeza que iriam autorizar.

Mas a vida é como a lua.

Só faz o que quer e quando quer pelo que Fernando não conseguiu a transferência e Lua teve de voltar para Lisboa sozinha. Apesar de se sentir revoltada com a situação, o seu bom fundo e a sua força, agora dupla, rapidamente lhe restituíram a alegria de viver.

O resto da gravidez foi passado a correr, entre procurar casa para si, tratar dos preparativos para o casamento, que só eles podiam tratar, e acabar o ano, o tempo passou-se sem que houvesse lugar a tristezas ou saudades.

Depois de muito agradecer e  explicar a dona Vicência a necessidade de uma casa só para si e para o filhote, e de lhe prometer que se precisasse de alguma ajuda por mais pequena que fosse, lhe ligaria de imediato, Lua fez as malas com os seus poucos haveres e partiu em direção ao 3º andar de um prédio com 4, situado numa praceta em frente a um jardim. Embora fosse um andar pequeno, apenas com um quarto e uma sala, era o seu lar.

O seu, o de Fernando e o de Simão, o seu filho.

O andar foi-lhe indicado por um colega da faculdade, que ao vê-la naquele estado de graça, e sabendo da sua situação, temeu uma desgraça, e, conhecendo o dono do andar, negociou com ele umas condições que Lua sozinha não teria conseguido.

Lua ficar-lhe-ia para sempre grata.

Mas gratidão, não era o que ele queria…

Agradecendo à tecnologia que lhe permitia falar com o Fernando e mostrar-lhe a nova casa e a barriguinha a crescer, era com uma alegria desmedida que ela esperava o grande dia. O dia do casamento.

E esse dia chegou.

Por um especial favor, conseguiu voar para a ilha, apesar do seu estado de gravidez e foi com emoção que vestiu a irmã e aceitou a ajuda dela para se vestir. Decidiram entrar as duas ao mesmo tempo, de braço dado com o pai que apesar de sóbrio nas últimas semanas, apresentava, no rosto, da vida ébria a que se tinha dedicado nos últimos anos.

A cerimónia foi simples, intimista, e …perfeita.

Casaram-se na única igreja da ilha, a igreja que assistiu aos casamentos de quase todos os habitantes, aos seus batizados, às primeiras comunhões, aos crismas, e os recebeu nas suas últimas visitas, encerrando o ciclo da vida.

Depois da igreja foram para a quinta do Dr. Mendes que se disponibilizou, mais do que isso, determinou que seria ali a festa, assim que foi convidado para a cerimónia. Eles que não se preocupassem com despesas porque essa seria a sua prenda de casamento para os 4.

Tudo corria de feição…

A noite ia bem, as pessoas estavam alegres e animadas e entre os que comiam e bebiam sentados às mesas espalhadas pelo jardim ou nos muretes do mesmo, e os que dançavam ao som de um gira-disco disco manipulado por um DJ improvisado, Lua saltitava feliz de mesa em mesa, cumprimentando todos com o sorriso que a caracterizava. Maria imitava-lhe os gestos.

- Estou tão feliz! - disse lhe Maria quando se cruzaram por baixo de um grande carvalho a descansarem um pouco.

- Nós também. – comentou Lua pondo a mão no ventre.

Maria viu e colocou a sua mão na barriga da irmã.

- Ele está a dar pontapés! – exclamou divertida. - Com esta força só pode ser um ele!

- Não duvides! - respondeu-lhe bem-disposta. – E vai ser um grande futebolista o meu Simão. - Gracejou.

- Simão?

- Sim.

- Parem! Parem com isso já! – A voz de Fernando fez - se ouvir ao fundo do jardim.

- Parem! - secundou-o o Dr. Mendes. – Parem, ou saem daqui.

Lua e Maria entre olharam-se perguntando-se o que estaria a acontecer. Então, Maria, mais rápida, correu na direção do som, enquanto que a Lua seguia lentamente o mais rápido que conseguiu.



 

 

 

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