Lua 11
O almoço correu
entre silêncios e conversas forçadas, cada um receando, e inconscientemente
adiando, e por motivos diferentes, o momento que se adivinhava, até que chegou
a hora do café, e mais uma vez, Fernando foi surpreendido com a recusa da Lua
em tomar um.
- Ah não! Isto
é demais! – disse para si. - Com certeza que se passa algo! Mas o quê?
Olhava-a
tentando perceber algum sinal, alguma mudança, alguma pista que o elucidasse
acerca deste comportamento estranho, mas… Nada.
Tirando o facto
de estar um pouco mais cheiinha, o que, diga-se de passagem, até lhe ficava
bem, não encontrava nada mais do que o olhar ausente. O olhar perdido para um
lugar para o qual ela fugia sem dar conta.
Resolveu, no
entanto, não dizer nada.
Ela disse-lhe
que tinha algo para lhe contar, não disse? Então esperaria. Não se atiraria
para “os cornos do boi”. Se alguma coisa aprendera na vida militar fora a esperar
que a “bomba caísse, antes de se atirar para o ringue”.
Após um café
bebido de um gole por Fernando, pagaram a conta e despediram-se do empregado,
prometendo voltar nos dias seguintes até saberem mais histórias das diferentes
cadeiras e das diferentes mesas, e, saindo em direção ao mar, desceram a arriba
de mãos dadas e em silêncio.
A baía, parecia
esperá-los. Com as suas pedras cinzentas e areia escura que recebiam as ondas e
guardavam-lhes os seus segredos, encontrava-se deserta, serena. À espera de
quem ali ia contar os seus segredos, rezar pelos seus anseios, agradecer as
suas sortes.
Nem sempre os
segredos confiados ao mar eram tristes. Havia sonhos e esperanças que pediam a
sua bênção e, dependendo da vontade dele, uma vontade que só ele e a lua
conheciam, eram ou não atendidos.
Fernando
matutava nisto quando se sentou ao lado dela numa pedra que gasta pelos anos e
pelo peso de muitos confidentes, tornara-se macia e adquirira a forma de um
banco. Um banco com vista para o mar.
Como ela
demorava a falar, ele renunciando aquilo que momentos atrás se impusera,
perguntou-lhe:
- O que se passa?
Estás estranha. E não inventes desculpas como o cansaço ou outra coisa parecida
que eu te conheço bem e sei que isso não é verdade. Ou pelo menos toda a
verdade. – O tom embora carinhoso era assertivo.
Ela olhava para
o mar e assim se deixou ficar ao responder.
- Não. Não estou cansada. - O vento brincava com os
seus cabelos, levantando-os e empurrando-os nas várias direções, dando-lhe a
desculpa de não o olhar de frente.
- Mas tu és
capaz de olhar para mim? - Virou-lhe o rosto segurando-o entre as mãos. - Diz-me, o que te preocupa? Sabes que podes
contar comigo. É algo com a tua irmã? Ou o teu pai?
- Não. – Abanou
a cabeça. Não conseguia contar-lhe. As
palavras que ele lhe dissera na única vez que tinham falado acerca do assunto apertavam-lhe
o coração e amordaçavam-lhe a boca.
- Então? - Levantou-se
e colocou-se de pé, de frente para ela.
Ao fundo
ouviam-se os risos de um miúdo que fugia às ondas em competição com o pai. Fernando
desviou o olhar atraído pelo som e sorriu.
Lua olho-os.
Olhou para o pai e filho e olhou para o Fernando e ganhando coragem, disse num
impulso:
- Daqui a um
ano vais ser tu no lugar dele.
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