Carolina 8
Rita exclamou em voz
alta ao tomar consciência daquilo em que se metera.
- Raios! –
Continuou.
- O que se passa?
- Perguntou Laura a amiga e colega ao vê-la explodir daquela
forma.
- Nada, nada. - Rita respondeu
sem pensar.
A cabeça já a pensar
em 1000 soluções para sair daquele imbróglio...
- Então se não é
nada, não barafustes. – Respondeu Laura sempre pratica e pragmática.
Rita parou de resmonear
e olhou para ela. De repente sorriu.
- Não! - Disse Laura
muito depressa.
- Não o quê? -
Perguntou Rita com um ar falsamente inocente.
- Não o que quer
que sejas que estás a pensar e me envolva...
E de imediato baixou a
cabeça e começou a mexer nos papéis que tinha em frente mostrando
que estava terminada a conversa.
- Vá lá…- Rita aproximou-se
e sentou-se à beira da secretaria da colega.
- Não, e sai daqui
que quero trabalhar. - Respondeu sem levantar os olhos dos papéis.
- Se queres trabalhar,
diz que sim e não te chateio mais por enquanto...
- Não. – Respondeu
com o tom de voz menos firme.
- Sabes que vais acabar
por dizer que sim...- Rita saiu de onde estava e abraçou a
colega por detrás da cadeira onde estava sentada.
- Raios! Mas porque
é que eu caio sempre nas ruas esparrela? - Bufou Laura falsamente
chateada, enquanto a enxotava.
Rita deu -lhe um beijo
e voltou para o lugar.
- Obrigado linda.
Laura ficou à espera
da continuação, mas como Rita não dizia nada, passado uns bons
minutos, poisou as coisas, rodou a cadeira para Rita e
atirou-lhe:
- Então?
- Então o quê? -
Perguntou Rita verdadeiramente distraída com o trabalho.
- Então não me vais
dizer no que me meti? - O espanto e a indignação estavam
bem patentes na forma e no tom da pergunta.
- Ah! Isso? - Rita
levantou a cabeça deixando cair um papel.
Levantou-se para o ir
buscar e arrumar, deixando um compasso de espera para arrumar
a sua cabeça o que ainda irritou mais Laura.
- Olha, retiro a minha
ajuda. - Laura voltou as costas e recomeçou o que estava
a fazer.
- Não! Espera. -
Rita sentou-se e chegou a cadeira para perto dela. - Estava
só a tentar organizar as ideias...
- E? - Laura olhou para
ela.. à espera de mais.
Rita inspirou fundo
e na expiração contou de rajada tudo o que acontecera.
Laura olhou para ela
do alto do seu pragmatismo e perguntou-lhe:
- E então qual é
o teu problema?
- Não percebes?! Ele
está a fazer me perguntas pessoais. - Eu não as sei responder.
- Então pergunta-as
à tua amiga.
- Simples! - Pensou
Laura encolhendo os ombros mostrando o que pensava.
- Não posso. - Rita
levantou-se e começou a andar pelo escritório.
- Porquê? - Laura
não percebia mesmo qual era o impedimento.
- E senta-te. Estás
a por -me nervosa com esse andarilho todo de uma lado
para o outro.
Rita parou e olhou para
ela.
- Não percebes? –
Repetiu.
- Não. – Respondeu já a
começar a perder a paciência.
- Se eu lhe perguntar
ela vai-me perguntar porque é que eu quero saber estas coias todas, e eu não
lhe posso contar.
- Ouve. Podes
perguntar-lhe de uma forma casual, não como se fosse um questionário a
preencher. De certeza que ela não vai desconfiar, e se desconfiar dizes que
tens curiosidade e pronto.
- E pronto! – Rita
imitou a voz de Laura. – Ela não é burra, pelo contrário…
E recomeçou a andar
novamente pela sala. Tinha visto muitas vezes estes comportamentos quando era
miúda, nas series policiais que devorava, uma atrás da outra, e isso ficara-lhe
gravado de um modo inconsciente que a levava a imitar o gesto sempre que
precisava de pensar.
- Mas tu és capaz de
parar? – Laura irritava-se sempre com aquele comportamento embora soubesse que
não adiantava de nada, pois Rita fazia sempre o mesmo. – Se não lhe queres
perguntar inventa.
- Mais? E depois? – Rita
já tinha pensado nisso.
- E depois logo se vê.
Tu conhece-la desde pequena, de certeza que sabes mais ou menos o que
responder.
- Hum…- Rita colocou o
dedo no queixo e olhou para o infinito. Outro hábito que imitava sem dar por
isso.
- Hum o quê? Não achas
que estás a fazer uma tempestade num copo de água?
- Se calhar…
- Então vá. Responde de
uma vez e deixa-me trabalhar.
- Ok, Ajuda-me aqui. –
Rita puxou a cadeira dela para junto da sua secretária.
- Sério?! – Reagiu Laura
- Sério. – Respondeu
Rita. – Vamos.
- O que me pode dizer
acerca de si? – Leu Rita em voz alta. – O que é que respondo?
- Mais uma vez a amiga é
tua…Como é que ela é?
Rita suspirou e começou
a escrever.
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