Carolina 1



Herdara-o de uma avó, que não conhecera, mas que segundo diziam, era uma mulher muito sábia e esperta. Tivera 3 maridos, o que para a altura era considerado um feito, e dos 3 herdara, além de fortuna, conhecimentos e vidas e experiências de vida que a tornariam numa mulher única, rígida e calculista, segundo uns.
Teve apenas uma filha, a sua mãe, já tarde e por descuido, e uma vez que não era uma mulher muito comum para a época, ensinou a sua filha a ser como um homem, lutadora, forte, trabalhadora, empresaria e fria.
Acima de tudo fria.
 Tanto, que a frase que Carolina mais ouvia da boca da sua mãe, quando se lhe dirigia a pedir consolo, era:
- Enxuga-me essas lágrimas e segue em frente. Lembra-te:
- Não nos magoa quem quer, só quem nós deixamos. E quem é que nós deixamos? - Perguntava a uma Carolina pequena e assustada e zangada.
- Ninguém, mamã, ninguém. – Respondia como um macaco amestrado quando tudo o que queria era um beijinho e um abraço.
Mas enfim, a vida é o que é, e nós não a podemos mudar.
 Assim Carolina cresceu com uma mãe fria e uma avó destemida e sábia e ausente, como modelos.
Sim, porque o pai, esse servira apenas para a procriação.
Após o objetivo atingido, tornou-se num empecilho, sempre a apelar ao sentimento, e a querer interferir na sua educação pelo que a mãe assim que pode, “despachou-o” como quem despacha uma encomenda nos correios.
Carolina pouco se lembrava dele, e agora passados estes anos todos, embora sentisse pena dele ao perceber como tinha sido usado, não deixava de dar um pouco de razão à mãe.
Ele fora um fraco. Se fosse outro tinha ficado e lutado por ela.
Mas eu ainda não disse porque Carolina detestava o seu nome.
Detestava-o por duas razões:
. Porque quem é que se lembra de pôr a uma criança da idade dela o nome de Carolina,
quando todas as amigas eram Sónias, Sandras, Carlas, Ritas Margaridas etc.? Graças a essa ideia luminária, passou a infância toda a ser gozada com a música da “saia da carolina” - Raios partam a carolina mais a saia e o lagarto! – Pensou tantas vezes.
. Porque Carolina era o nome da avó e o segundo nome da mãe (Maria Carolina) e ela não tinha nada a ver com as detentoras do título.
Ao contrário da mãe e da avó, Carolina saíra ao pai, tímida, meiga e sonhadora.
Também não tinha o sucesso que caracterizava as ascendentes. Tinha apenas duas amigas e namorados nem os ver.
- Com 30 anos! – Lembrava-lhe constantemente a mãe. – Francamente! – E, abanava a cabeça numa reprovação silenciosamente alta.
Uma coisa, porém, herdara da sua avó, a capacidade criativa, que nela se revelava através da escrita.
Carolina passava horas sentada debaixo de uma árvore, ou em frente ao mar, ou no bar do fim da rua, de caderno e lápis a escrever.
Sentia um verdadeiro prazer em escrever, não só em criar mundos e pessoas e vidas, como também sentia um verdadeiro prazer em desenhar a letras, e com uma caneta ou lápis, criar palavras que depois se transformam em frases que se transformam em parágrafos, que se transformam em contos que se transformam…Em sonhos que por sua vez, transformam o dia a dia cinzento da Carolina num dia de arco-íris .
As amigas ofereciam-lhe tablets, insistiam com ela para se modernizar, mas ela recusava-se.
Até os livros só lia em papel.
Esta era outra das características que tinha herdado das Carolinas, a teimosia…Se calhar vinha com o nome…
Tudo corria num ritmo lento e confortável, até que um dos dias, uma das suas amigas, Rita, a mais arrebitada decidiu que estava na hora de Carolina sair do buraco.
Se não ela, as suas estórias, e se bem o pensou mais depressa o fez.
Procurou na net um site sobre o qual ouvira falar, e que ajuda os jovens escritores de todas as idades a publicar as suas histórias, e sem dizer nada a ninguém, pegou num par de pequenos contos que Carolina guardava e resolveu agir.






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