Carolina 2
Rita, a amiga da Carolina
levantou-se cedinho num sábado e, sentada na sua poltrona favorita, de robe e
pijama, com as pernas estendidas sobre um Puf, a sua manta favorita ao colo e
computador em cima das pernas, olhava para o ecrã.
Ao lado, na mesa de apoio
tinha os contos da Carolina, que não fora fácil obter sem que ela soubesse, e
uma chávena de café, cujo aroma lhe dava inspiração e energia para levar a cabo
a sua missão.
Do outro lado, aninhado a seus
pés tinha Tim, o seu beagle e fiel amigo que era a sua sombra dentro e fora de
casa. Onde estava um, estava o outro invariavelmente.
Lá em cima o seu marido e o
seu filhote, ressonavam a sono solto, um barulho que a embalava e acalmava, tal
como o ronronar de um gato, quando tudo estava bem.
Uma vez o computador ligado,
abriu o Google e deu início à pesquisa, que se tornou mais difícil do que pensava,
e ao fim de uma hora de busca incessante, tinha apenas selecionado dois sites
que lhe pareceram mais seguros e fiáveis.
Começou então a preencher os
dados que lhe pediam.
Quando chegou à parte do nome
e o mail ficou com dúvidas.
Deveria pôr o dela, ou o da
Carolina?
Se pusesse os dela pareceria
uma usurpadora do trabalho da amiga.
Se usasse os da amiga sem
autorização dela estaria a cometer uma ilegalidade, além do que ela ficaria
logo a saber de tudo no início do processo.
Andava às voltas neste dilema
quando o Tim, se levantou e correu contente para as escadas.
Eram o filho e o marido que
desciam.
Rita, largou o que estava a
fazer e foi até à cozinha preparar o pequeno almoço.
Adorava aquele ritual dos
sábados de manhã, de preparar ao pequeno almoço enquanto o seu filho judiava o
cão, e o marido, que depois de a abraçar por trás e lhe mordiscar o pescoço, a
ajudava pondo a mesa e controlando, Pedro, o seu filhote a não massacrar muito
oTim.
Sentados à mesa da cozinha que
não era nem grande , nem pequena, mas à medida dos 4, a comerem tranquilamente,
ou melhor, a comerem bem dispostos porque onde estivessem o Pedro e o Tim
juntos, tranquilidade era uma palavra que desaparecia como que por
mistério, mas estavam naquela rotina
feliz e descontraída, quando Rita ao olhar feliz para a sua família se lembrou
de Carolina e em como ela não tinha nada disto e merecia.
Se havia mais alguém no mundo
que merecia era ela, mas a sua timidez e os modelos educativos que tivera ao
longo do seu crescimento impediam-na de ter.
- Impedem, não! Dificultam, mas não impedem. - Disse
para si enquanto bebia lentamente um gole de café.
- Um tostão pelos teus pensamentos- Comentou o
marido ao vê-la tão calada, contra o que era costume. Sim, porque se o Pedro
era um mini terror andante e adorável tinha bem a quem sair...e não era ao pai.
- Estava a pensar na Carolina.
- E? - Perguntou após o não
desenvolvimento do assunto, o que também não era normal.
O que era normal em Rita era
usar uma torrente de palavras e eufemismos e alegorias para contar o que
poderia ser dito numa simples frase...Vá no máximo duas.
Rita olhou-o e sentiu o que sempre sentia
quando tinha dúvidas. Ele era o seu porto de abrigo e conselheiro. Ele tinha
quase sempre razão e quando ela optava por não seguir os conselhos dele,
metia-se sempre em sarilhos que ele tinha de resolver.
Assim resolveu revogar a
decisão que tinha tomado de não contar nada a ninguém e fazer tudo sozinha, e contou-lhe
o que pensava fazer e as dúvidas que lhe surgiram.
Ao contrário do que estava à
espera, ele achou uma boa ideia e deu-lhe a sugestão de usar um pseudônimo.
- Um pseudônimo!!! Claro! Como
é que não tinha pensado nisso?
Levantou-se, deu-lhe um beijo e com um
"amo-te " saiu da mesa direita ao computador, tão entusiasmada que
estava.
- A mamã? - Perguntou o
pedrito, sentado na sua cadeira-nave-espacial.
- A mamã entrou no mundo da
lua. – Respondeu o pai bem-disposto. - Parece que temos de ser os dois a dar
cabo desta comida todo Sr. astronauta.
- Os dois, não. Os três! - Respondeu
de boca cheia referindo-se a Tim.
- Uof, Uof. – Ouviu-se debaixo
da mesa.
Rita estava já novamente na
sua posição favorita, a escrever furiosamente no teclado a preencher os dados
novamente, porque se tinha esquecido de "guardar " todo o trabalho
que fizera antes.
Quando chegou à parte do nome,
colocou: Catarina Correia, e no e-mail: asaiadacarolina.gmail.com
Riu-se com o nome que escolheu
para o mail. A Carolina iria esfolá-la viva quando soubesse. Desde pequena que
ela afinava quando à volta dela cantavam e dançavam a música da " saia da carolina".
Preenchida a parte burocrática,
digitalizou os textos, carregou o botão certo e.…"voilá"!!! Textos
enviados.
Agora era esperar.
- Será que algum deles me vai
responder? - Perguntou ao marido
- Talvez. Mas não hoje nem
amanhã que é fim de semana, por isso agora esquece o assunto e vem dar-nos
atenção.
Rita riu-se. Os homens são tão
maricas e dependentes...
Às vezes perguntava-se como é
que ele era tão sábio e firme nos assuntos externos ao meio familiar..., Mas a
verdade é que era.
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