Carolina 4
Teresa estava sentada na sua secretária
a olhar para o computador, mas sem o ver.
Estava descalça. Já não conseguia aguentar por muito tempo aqueles
sapatos de salto de agulha, afinal já não tinha 20 anos.
Nem 30.
E aqueles quilinhos a mais também não
ajudavam, no entanto fazia questão de os usar.
Eram como uma âncora que a agarrava ao
passado, aos dias onde ela feliz, e escrevia e sonhava em ser uma escritora
publicada e consagrada.
Mas a vida não a tinha ajudado.
Não a tinha posto em contacto com as
pessoas certas e ela teve de se dedicar a esta profissão.
A de ajudar outros a escreverem e a
serem publicados.
- Mas isso é um contrassenso! - Disse-lhe
uma vez um amante após um momento de entrega em que Teres quase sempre se
sentia fragilizada, e quase sempre falava sobre si com autocomiseração.
- Ouve, eu não preciso de dinheiro para
viver. Felizmente posso fazer o que quero e o que quero é provar aos que me
rejeitaram, o quanto estavam errados.
- Como assim? Não te estou a seguir. - Insistiu
o rapaz.
- Ajudando alguém com o meu talento.
Alguém a ser publicado. Assim, vou sendo reconhecida no meio como uma
referência. "Ah! Se a Teresa
aprovou é porque é bom. Ela sabe o que faz. Ela é uma boa escritora!!".
- Mas porque não públicas algo teu?
- Tu não percebes! - Levantou- se da
cama, enrolando-se no lençol e deixando a nu o corpo dele.
- O meu âmago foi ferido. A minha fonte
de inspiração secou. Eles mataram-me, mas eu renasci, qual fênix das cinzas! - Declamou teatralmente, levantado um braço e a
cabeça em direção ao teto.
O rapaz que não sabia quem era a fênix,
nem a que cinzas ela se referia, levantou-se também e indo ter com ela
convidou-a para o duche. Para ele a conversa estava acabada.
E era com esta personalidade excêntrica
e algo desequilibrada que Teresa dirigia um site de ajuda a novos escritores,
com sede num terceiro andar de uma rua de um bairro típico de Lisboa.
Tinha como ajudantes uma universitária a
estudar filosofia e o seu irmão, jornalista de profissão que como tinha um
horário de trabalho liberal, ia lá dar uma mãozinha, porque além de achar a
ideia divertida, adorava a irmã que apesar de tudo tinha um coração enorme, mas
que poucos conheciam.
Ora nesta segunda feira em específico, Teresa
estava sem paciência para o seu trabalho.
Foi lendo alguns dos textos que lhe
mandaram, aceitando uns, ignorando outros, um pouco ao calhas, sem lhes dar a
devida atenção.
Calhou ter o texto de Carolina aberto no
computador quando a sua funcionária/ajudante/ pau-para-toda-a-obra enfiou a
cabeça pela porta.
- CHEFINHA, CHEFINHA! venha ver.
Depressa!!!
Teresa bufou. Lá teria de se levantar e
calçar os malditos sapatos. E ainda por cima tinha os pés inchados por se ter
descalçado ainda há pouco.
Mas, " noblesse oblige" e com
esforço contido lá se pôs em cima dos sapatos e seguiu a miúda.
-
É
lá em baixo, na rua. – Chamou-a excitada
-
Sério?
É assim tão importante que tenha de descer e subir um terceiro andar?! – Teresa
estava sem vontade e sem paciência.
-
Vamos,
vamos! Antes que se vá embora - Disse já a correr escada abaixo.
Teresa lá a seguiu bamboleante
resmungando que esperava bem que valesse a pena
esforço.
E
logo hoje que estava de mau humor.
Abeirou-se
da porta e espreitou com má cara.
O
que viu fez-lhe mudar a expressão
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