Carolina 5

Havia 3 ambulâncias, vários carros de polícia, um número grande de bombeiros, polícias e médicos, jornalistas e um sem número de pessoas que iam e vinham, que iam e ficavam.
-    Mas o que é que se passa?
Teresa tinha -se esquecido das dores dos pés e ia no encalço da sua estagiária - Não sei, mas deve ser coisa grave. - Respondeu quando Teresa a alcançou.
 - Foi uma mulher que se suicidou. - Respondeu um homem que estava parado a tentar ver através da multidão.
- Não se matou. Mataram-na! - Retorquiu uma mulher do outro lado.
- Acho que foi o marido. – Opinou outra.
- Filipe. Filipe! - A sua estagiária gritava pelo nome do irmão de Teresa que estava do
outro lado do cordão humano.
- Filipe! - Insistiu acenando e pulando.
Ele acabou por ouvir, ao fim de várias tentativas por parte de Sofia e de Teresa que se lhe juntara, e virou- se.
Franziu os olhos num esforço de identificar quem o chamava e quando percebeu quem era, abriu o seu sorriso do tamanho do mundo e acenou-lhes fazendo sinal para que esperassem que ele já se lhes juntaria.
Teresa lembrando-se de repente dos sapatos e dos pés e da dor, virou-se para a Sofia e disse-lhe:
- Vou me embora. Diz ao meu irmão para ir ter comigo ao escritório assim que puder.
- Ok, Ok. Vou ver se descubro mais alguma coisa. Grande história hein? Podemos escrever um policial baseado nisto.
A cara de Teresa disse o que a boca não falou.
- PODEMOS?!- Pensou horrorizada. -  Mas quem esta fedelha pensa que é?
Fez um sorriso amarelo e virou-se em direção ao escritório.  Tinha de tirar aqueles malditos sapatos o mais depressa possível.
Já pertinho da porta olhou para todos os lados para verificar que ninguém a via e descalçou-se. O alívio espalhou-se pelo rosto. Até pensava melhor.
Aos saltinhos, degrau a degrau foi pensando na ideia de Sofia. Se calhar não era assim tão má...
Abriu o escritório e sentou-se no sofá que estava defronte da sua secretária.
Pegou num bloco e numa caneta e começou a escrever.
Tal como a Carolina precisava de desenhar as palavras para as ideias fluírem e se organizar mentalmente.
Que saudades tinha de se sentir inspirada para escrever. Como era boa e libertadora aquela sensação.
O cenário era fácil de descrever, era o jardim no fim da rua que ela tão bem conhecia, já as personagens...
As personagens apareciam e cresciam e mudavam de ideias e feitio à medida que a história se ia desenrolando.
Ganhavam vida própria e ela adorava isso. Outra coisa em comum com a Carolina. A coisa estava a correr bem. Tão bem que não deu pelo irmão entrar.
- Olá maninha. Querias falar comigo?
Teresa assustou-se. Estava a pensar na vítima, a escolhê-la de entre as várias possibilidades que lhe apareciam à frente.
- Lembras-te de ver uma rapariga de cerca de 30 anos sentada ali no jardim a ler e a escrever? Estou a pensar usá-la como vítima, o que achas?
- Hein? - Filipe sentou-se à secretaria de frente para ela e para o computador.
- Aquela moça que costumamos ver aos fins de semana ali no jardim. Que eu até disse que era uma boa hipótese para ti. Não te lembras? - A impaciência dela característica de quando tinha de saltar de um mundo para outro, começava a aparecer.
- Sssim... O que é que tem?
- Estou a pensar usá-la como vítima no livro.
- Qual livro? - Filipe olhou para o computador à espera de encontrar algo que o iluminasse.
Nada.
Apenas algo escrito que não tinha nada a ver com crimes. Pelo menos por aquilo que conseguia ler. Chamou-lhe, no entanto, a atenção do nome do mail: "asaiadacarolina" - Tem um lagarto pintado. - Leu em voz alta sem se aperceber.
- Hein? - Agora era a vez de Teresa não perceber nada.
- A saia da carolina tem um lagarto pintado. - Repetiu ele.
- O quê? Endoideceste?
- Estou a falar deste mail que tens aqui aberto.
- Ah! Isso. Isso é para ir para o lixo. - Respondeu impaciente. Queres ouvi-las ou não?
- Mas porque é que vais deitar fora? Parece interessante.
- Apaga isso e dá-me atenção.  - O tom de voz era imperativo.

Filipe como irmão mais novo estava habituado a obedecer e.…a desobedecer 
também. Assim, em vez de enviar para o lixo reencaminhou para o seu correio 
eletrônico.  Um e mail com este nome merecia alguma oportunidade.



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