Carmo 19

 

Sandra foi a primeira a chegar ao café. Entrou e escolheu uma mesa junto ao balcão para se sentar.

O café, decorado com motivos outonais e com chávenas de café de várias formas e tamanhos, penduradas e colocadas nos mais variados sítios tinha um ar acolhedor. Parecia até ter um toque feminino, o que a intrigou.

Sentou-se.

Olhou para a carta e viu uma série de sandes e raps que podia escolher, todos dentro de uma gama vegetariana. As bebidas eram as usuais.

Resolveu esperar pela Sónia antes de escolher alguma. Entretanto, iria indagar o tal “dono” tão apreciado nas redondezas.

Um rapaz dos seus 20 anos apareceu junto à mesa uns minutos depois. Trazia um avental preto à cintura que tapava uns jeans justos, que por sua vez condiziam com uma t-shirt branca, também ela justa.

- Hum, não estás mal. - pensou Sandra. – No entanto és um pouco novo para mim. Terás um irmão mais velho?

- Bom dia. – cumprimentou-a o rapaz.

- Bom dia. – retribuiu o cumprimento.

- Já sabe o que vai pedir? – perguntou ele.

- Estou à espera de uma amiga. Obrigada. – O seu cérebro funcionava à velocidade da luz. Como é que um rapaz tão novo era dono de um café? - questionava-se.

- É muito acolhedor este seu espaço. – comentou tentando “tirar nabos da púcara”.

- Ah! – ele sorriu. – Não é meu. Eu sou só empregado. O café é do meu, hum, do João. O meu patrão. – respondeu atrapalhando-se pelo meio.

- Ah! – Sandra sorriu. Ela bem sabia que “a bota não dizia com a perdigota.”

- E onde está o seu patrão? – perguntou com o ar mais natural do mundo.

Ivo, o rapaz, ia a responder quando Sónia apareceu.

- Olá! Desculpe o atraso. À última hora um miúdo entornou uma cola no chão e eu tive de lavar o chão todo, porque não contente por ter entornado ainda andou a patinhar. E a mãezinha caladinha. Ao telemóvel. Ele há gente… - desabafou de rajada ao mesmo tempo que puxava uma cadeira e se sentava.

O rapaz sorriu e Sandra imitou-o contrafeita. Logo agora que estava a tirar informações da púcara…

- Eu sou o Ivo. – disse num tom galante. – Quando decidirem chamem-me. Estou aqui para vos servir. Literalmente!

E saiu deixando-as atónitas.

- Estou aqui para vos servir literalmente?! – Sónia imitou-o. – Tenho de dizer ao António que comece a usar destas frases. Assim a concorrência torna-se feroz. – brincou.

- É este o dono? É muito novo, não é? – pegou na carta.

- Não é o dono. O dono chama-se João. E eu estava a obter informações acerca dele quando a Sónia apareceu.

-OooH! – Sónia pôs um ar constrangido. – Perdão. – pediu na brincadeira. – Mas o que tenho para contar com certeza que serve de … - procurou a palavra “redenção”, mas não a encontrou. – De perdão. – acabou por dizer.

- Então? Conta. – Sem se aperceber começou a tratá-la por tu.

Sónia sem se aperceber, também, imitou-a, e contou-lhe tudo. Desde o motivo da zanga até ao plano que elas tinham. No fim, a cara de Sandra era de espanto.

- Como é que? – Não acabou a frase porque um homem dos seus 35 anos, musculado, avental à cintura e uma t-shirt que parecia querer rasgar-se a cada movimento que ele fazia, de tão esticada que estava, aproximou-se da mesa.

- Boa tarde, sou o João. Já acabaram? - perguntou olhando para o parto da Sandra com um pedaço de rap de salmão esquecido. – Posso levar?

Ao ouvir o nome, a atenção de Sandra desviou-se. Examinou-o de alto a baixo, num instante. Adorou o que viu. Os olhos azuis, a barba mal semeada, o cabelo muito curto mas que se adivinhava loiro. Enfim. Percebeu a razão da fama.

- Pode sim. – quase gaguejou perante Sónia que a olhava divertida.

- E para sobremesa? Um café? – sugeriu ele sorrindo e com os pratos na mão.

- Sim, dois se faz favor. – respondeu Sónia porque Sandra estava embasbacada a olhar para ele.

 


 

 

 

 

 

 

 

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