Amigas Improvaveis 8


-Ainda bem que estás aqui, assim entro contigo. Perdi o cartão e não me apetece nada ir ter com a Odete...- Disse fazendo uma careta e deitando a língua de fora. 
Rita riu-se. 
- Menos mal.- Pensou Maria. - Se calhar tinha corrido tudo bem. Voltou-se para se ir embora, quando Rita a chamou:
- Dona Maria. Depois do trabalho vou ter consigo para lhe entregar umas roupas que trouxe lá de cima. Pode ser? Tenho-as na bagageira do carro. - Piscou-lhe o olho e foi atrás da colega. 

O dia passou a correr para a Rita que estava animada com a ajuda que João lhe prometera. Além disso, o chefe chamou-a ao gabinete e deu-lhe a entender que talvez, talvez, tivesse tomado uma decisão um pouco precipitada.  Ela teria até ao fim do mês para o provar. Se o conseguisse as coisas ficariam com estão. 
Rita ficou atônita. O que se teria passado? 
- Então e a Odete? – Não resistiu a perguntar.  Mas um olhar carregado e de aviso do chefe fê-la levantar-se de olhar baixo, agradecer rapidamente e sair.
Vinha eufórica. Mal podia esperar para contar ao João e à Maria. 
À hora da saída, já fora do edifício, ligou para Maria. Combinaram encontrar se dali a meia hora no mesmo jardim. 
Desta vez Rita foi a primeira a chegar. Estava ao telefone, a contar as novidades ao João quando a Maria se sentou à sua frente. Tinha o telemóvel numa mão e uma chávena de café na outra.
O empregado aproximou-se.
- Boa tarde, um café para a Sra.?
- Credo! Café a esta hora? - Exclamou Maria. – Não! Para mim um carioca de limão se faz favor.
Rita, que, entretanto, desligara riu-se.
- Ó Maria. O dia ainda é uma criança. 
- Para si, que não tem de se levantar as 5h.30min. da manhã. 
-Ui. Tão cedo? Pensei que morava ao lado do escritório. 
- E moro. Mas antes de entrar ao serviço tenho de deixar uma velhota de quem tomo conta, de banho tomado e pequeno almoço comido.
- Tem dois empregos?
- Antes tivesse. – Suspirou- Não, é uma pobre senhora que não tem família, nem tem onde “cair morta” … Tenho muita pena dela…
Rita olhou-a. Nunca pensou que a vida dela fosse tão dura. 
- Bem, mas conte-me o que que aconteceu que eu não tenho a noite toda. – Refilou com carinho Maria ao ajeitar-se na cadeira.
Rita contou-lhe então, em muitas palavras, tudo o que aconteceu, não se esquecendo de referir como fora injusta para a sua mãe e como estava arrependida. Quando acabou, ficou a olhar para Maria à espera de um comentário que não vinha. Por fim não aguentando mais comentou:
-Então? Não diz nada? O que devo fazer?
Ignorando a pergunta Maria afirmou questionando:
- Então, se bem entendi, agora não tem casa. Certo?
- Errado, tenho a casa do meu amigo. Ele disse me que posso ficar o tempo que quiser.
Maria suspirou exasperada. 
- A sério? - Olhou para ela com um ar zangado.
Rita sem perceber respondeu.
- Sim, a sério. Qual é o problema?
- Qual é o problema? Qual é o problema? - Repetia incrédula.
- O problema é que deixa de estar dependente de um para ficar dependente de outro! Não percebe? Será que não consegue aprender?
- Como assim? Não tem nada a ver. - Rita agitou-se na cadeira. Começava a perder a paciência. Gostava muito da dona Maria, mas ela estava a abusar. Tinha de a pôr na ordem. Abriu a boca para refilar quando a Dona Maria falou:
- Temporariamente está bem. Aceite e agradeça ao seu amigo, mas se quer provar ao seu pai que é independente, tem de sê-lo por inteiro. – Disse num tom assertivo, chegando-se para a frente.
O empregado chegou com o chá que Maria tinha pedido, e ambas seguraram as respetivas chávenas e ficaram quedas por uns instantes.
- Estou a trabalhar uma ideia. – Disse Maria passados uns instantes. - Deixe me confirmar alguns pormenores e depois digo-lhe. 
- Ok...- Rita não estava muito convencida
Despediram-se. Maria levantou-se e saiu e Rita ficou mais um pouco a pensar no que tinha ouvido.
           Era verdade o que a Maria dizia, mas de repente, sentiu que ela estava a mandar demais na sua vida, e tomou uma decisão. Mais uma… Mas desta vez, iria guardá-la para si, decidiu.
Num repente levantou-se e saiu. Não tinha dado meia dúzia de passos quando o empregado a chamou:
           - Menina, menina!
           Rita voltou para trás.
           -Sim? – Perguntou sem perceber porque ela a chamara.
           - A menina desculpe, mas esqueceu-se de pagar…
           - Oh! – Rita ficou embaraçada. – Desculpe, aqui tem. – Disse deixando um pouco a mais para o compensar.

Foi para casa do João.  Ele já tinha a mesa posta, um copo de vinho à sua espera e um jantar que cheirava maravilhosamente bem no forno. Quase pronto a ser servido.
Rita descalçou as sandálias e atirou-se para o sofá.
Estava exausta. Durante o caminho apercebera-se que a sua vida se resumia a tomar decisões que nunca levava a cabo.
Caía e levantava-se, caía e levantava-se, e estava tão cansada disso… E o pior de tudo é que começava a não acreditar em si própria, nem nas decisões que tomava.
O João sentou-se ao seu lado e abraçou-a sem dizer nada.
- Humm. Como estava a precisar disso. - Ronronou enroscando-se no abraço. - Mesmo, mesmo. - A voz era dengosa.




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