Amigas Improváveis 10
Com a mão
nos rosto e lágrimas nos olhos, Odete gritou esganiçadamente.
- Viram? Viram?
Ela agrediu-me. Não posso permitir isto. Vou à direção e vocês são todas minhas
testemunhas.
- Não
precisas minha grande cabra! Eu mesma me despeço, não quero continuar a
trabalhar num antro destes.
E sem pensar
duas vezes, dirigiu-se à sua secretária, recolheu o portátil e saiu batendo com
a porta.
Na sala o
silêncio era apenas quebrado pelas imprecações de Odete que apelava à piedade
de quem lá estava, e pelos risos silenciosos de quem a tudo tinha assistido.
Furiosa,
cega pela raiva e pela culpa que sentia em relação ao despedimento de Maria,
Rita, passou pela secretária do diretor, e sem parar e bateu à porta. Entrou
sem esperar por qualquer resposta e perante um homem estupefacto poisou o
computador na secretária ao mesmo tempo que dizia:
- Despeço-me.
Aqui tem o meu trabalho. Ganharam!
- Mas o que
vem a ser isto!? – O pobre homem não percebia o que se estava a passar.
- O que vem
a ser isto? – Rita estava descontrolada. – Vocês ganharam. Despeço-me!! – Repetiu-se.
- Tenha
calma. Respire fundo. Sente-se e conte-me o que se passou. - O senhor falava
com uma paciência que raramente se encontra num diretor.
Com lágrimas
à beira dos olhos, Rita sentou-se e relatou o que se tinha passado naquela
manhã. Terminou dizendo:
- É incrível o que uma maçã podre pode fazer num cesto cheio de maçãs sãs!
O diretor, um homem com
idade e experiência de vida longas, respirou fundo. Encostou-se para trás na
cadeira, juntou as mãos e fechou os olhos refletindo um pouco no que acabara de
ouvir. Ao fim de alguns segundos que pareceram horas a Rita disse:
- Sabe que o que a Dona
Maria fez, foi muito grave.
- Como assim? O que foi que
ela fez? Se foi a Odete que lhe contou, é com certeza mentira…
- Menina Rita… - A
paciência começava a diminuir
- Desculpe…, mas o que é
que ela fez? Porque é que a despediram?
- Por ter estragado o computador da menina Odete.
- Como assim?
Estragado?
- No sábado de
manhã, a menina Odete veio fazer horas extraordinárias, e diz que quando chegou
ao escritório, o computador dela estava estragado. O ecrã riscado com palha de
aço e a UPS cheia de lixívia. Diz ainda que na sexta quando se foi embora tudo
estava bem. – Recostou-se novamente.
Rita levantou-se colocou as mãos na secretária e com indignação na voz
disse:
- Mas isso não faz sentido!!! Quem nos garante que não foi
outra pessoa? Ou mesmo ela? A Odete? Sim ela era bem capaz disso!
O diretor olhou-a como que a dizer, “Cuidado por onde está a ir…”
- Fomos ver os registos de entrada, e a senhora Maria realmente esteve aqui
naquele período, e quando confrontada com o que tinha acontecido, não o negou.
- Não negou???!!! – Rita estava cada vez mais confusa. Sentou-se.
- Não. Apenas balbuciou algumas palavras e pegou no papel e saiu. Em
direção aos recursos humanos. Pediu a demissão e foi-se embora.
- Não estou a perceber nada. – Rita falava mais para si do que para ele.
- Bem, não me agrada perder dois funcionários numa semana. Sugiro que a
menina se retrate com a menina Odete e deixemos as coisas por aqui. Que me diz?
Levantou-se e dirigiu-se a ela convidando-a a levantar-se também. Para ele
as coisas estavam encerradas. Era apenas mais uma briga entre mulheres, uma das
muitas a que já assistira.
Rita seguiu-o. Ia responder, mas de repente, lembrou-se que se queria
apurar a verdade tinha de ficar por lá. Assim. Acenou com a cabeça e saiu.
Antes de ir para a sua sala, resolveu passar pelos recursos humanos e pedir
a morada e o telefone de Maria. Não foi fácil, mas lá conseguiu. Amaldiçoou a
“lei da proteção de dados”, mas regozijou-se por “tê-la” vencido.
Sorria enquanto marcava o número de Maria, na casa de banho que estava
vazia. Atendeu-lhe o voice-mail.
- Estou? Maria? Já soube o que lhe aconteceu. Como é que tudo se passou?
Podemos encontrarmo-nos no sítio do costume logo ao fim do dia? Ligue-me. Beijinho.
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