Amigas Improvaveis 11
Como um condenado que se dirige para
a forca, assim foi Rita para a sua sala.
Antes de entrar, respirou fundo. Com a mão na maçaneta, soltou umas
imprecações em voz baixa, e enchendo-se de coragem abriu a porta.
Odete olhou-a com uma cara de fúria, vermelha, não sei se de raiva, se do
rescaldo do estalo, as outras olharam-na com um misto de curiosidade e de
diversão. Afinal, não era todos os dias que se via uma cena destas.
Rita, levantou a cabeça, encheu o peito de ar e dirigiu-se à secretária
onde estava Odete. Esta recuou instintivamente na cadeira.
- Não te preocupes. Não te vou bater. – Rita não resistiu.
Ao redor ouviu-se um ruido de risos
em surdina.
– Aliás, - continuou com uma voz falsamente mansa – Venho aqui pedir-te
desculpa, excedi-me. Já falei com o diretor e tudo está resolvido.
- Como assim resolvido? – Os gritos saiam esganiçados. - É que nem penses
nisso. Isto não vai ficar assim.
- Como queiras – Rita virou-lhe as costas e dirigiu- se para o seu
lugar.
Odete levantou-se num pulo e saiu porta fora. As outras viraram-se para
Rita querendo saber mais. O que se tinha passado com o “fundador” - Era assim
que chamavam carinhosamente ao diretor- Sempre era verdade aquilo da Maria? Ela
tinha mesmo estragado o computador? Estava despedida?
- Meninas, por favor. Dêem-me um
pouco de espaço. O dia hoje não está a ser fácil. Deixem-me concentrar-me no trabalho.
Daqui a pouco já irão saber tudo pela boca da Odete. – E deste modo encerrou o
assunto.
Mas a verdade, é que Odete não apareceu mais durante o dia.
Ao fim da tarde, Rita esperava ansiosamente pela Maria. Assim que ela
chegou, levantou-se e deu-lhe um abraço. Depois sentaram-se e antes que
dissessem algo, o empregado apareceu.
- O mesmo de sempre minhas senhoras?
- Ora então conte-me lá como é que tudo se passou. Nem consigo acreditar!
- Olhe, nem eu mesma sei muito bem… No sábado de manhã, a menina Odete foi
fazer horas extraordinárias, e diz que quando chegou ao escritório, o
computador dela estava estragado. O ecrã riscado com palha de aço e o
"motor", aquela coisa que o faz trabalhar, cheio de lixívia. Diz
ainda que na sexta quando se foi embora tudo estava bem. Ora como eu fui a
única a lá estar antes dela...
- Mas isso não faz sentido!!! Quem nos garante que não foi outra pessoa? Ou
mesmo ela? - a indignação na voz de Rita era notória.
- Pois isso foi o que eu tentei dizer, mas ela disse que a menina e eu
éramos muito amigas, e que já nos tinha visto a falar pelos corredores, e que
até tinha visto a menina a oferecer-me coisas, e que como todos sabiam a menina
era inimiga dela, ela, que tudo fez para a ajudar...- Desta vez era
sarcasmo o tom que se ouvia.
- Oiça. A Maria tem direitos. Isto não vai ficar assim. Vamos por um
advogado a tratar disto.
A Maria riu-se.
- Oiça lá, em que mundo é que vive? Acha que eu tenho dinheiro para pagar a
um advogado? Nem para mandar cantar um cego, quanto mais...
Rita ficou calada por uns segundos.
- Não se preocupe. Eu trato do assunto.
- Obrigado, mas não. Não quero caridade e não tenho como pagar-lhe.
- Ora, deixe-se disso. - Olhou para o relógio e levantou-se num salto.
- Desculpe-me, mas agora tenho mesmo de ir. Depois falamos. Ainda hoje.
Daqui a pouco já lhe ligo. Beijinhos.
E Maria
deixou-se estar. Estupefacta. Aquela fedelha não deixava de a surpreender… Mas
como é que ainda ia nas conversas dela? Não se tramara já o suficiente? É
verdade que não gostava do que fazia, e já há uns tempos que pensava mudar, mas
não assim. Não desta forma, sem ter um outro emprego primeiro.
A sua
sorte fora a Inês dos recursos que a ajudara. Com a sua ajuda e os seus
conhecimentos, fez com que ela fosse despedida em vez de ela própria se
despedir e assim pudera recorrer ao subsídio de desemprego. Mas isso não ia
durar para sempre. Tinha de pensar no seu futuro e dos seus filhos e deixar
fedelhas como esta para trás. Tinha mais do que fazer!
Entretanto
Rita ligou ao João.
- Estou? -
- Estou?
- Estou? - João não
ouvia bem.
- Estou? João?
Finalmente atendeste. Já te liguei três vezes!
- Desculpa.
Estava em reunião. Estás bem?
- Estou. Recebi o
teu recado. Está tudo bem?
- Sim. Lembrei-me
de uma coisa que talvez te possa ajudar. Mas queria perceber primeiro umas
coisas. Hoje jantas em casa?
- Eu já não preciso de ajuda, já recuperei o meu lugar. Agora quem precisa
de ajuda é a Maria. Achas que a podes ajudar?
- Maria? Quem é a
Maria?
- Quem é a Maria?
Quem é a Maria… A Maria, a senhora de quem te falei. A da limpeza. Olha, vou
entrar para o carro. - Depois falamos logo ao jantar pode ser?
- Sim, claro. -
João já estranhava a falta de intempestividade da amiga.
- Olha, olha,
olha...- Gritou para o telemóvel antes que João desligasse.
- Sim?
- Sempre a podes
ajudar? Ela não tem dinheiro e foi despedida por minha causa...- O tom de voz
era de suplica. Ele quase que a via a fazer "beicinho".
- Como assim?
Despedida por tua causa?
- Depois
explico-te. ou melhor ela explica-te. Vou convidá-la a jantar connosco. Não te importas,
pois não?
- Hein? Como? -
Mesmo conhecendo-a muito bem, desta vez ele estava atordoado.
- Eu sabia.
Adoro-te. Até logo!
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