Amigas Improváveis 6


- As coisas lá por Lisboa vão bem. – Mentiu Rita.
- Tens a certeza? – O pai insistiu.
Rita engoliu em seco. – Bolas! – Pensou. – O tio Domingues de certeza que já lhe disse alguma coisa…
- Aprendeste por lá a mentir também? – A voz do pai era calma, demasiado calma. Como aquela calmaria que antecede a uma tempestade.
- Como assim? Eu não minto. – Rita tentava ganhar tempo.
- Não? – O tom de voz tornava-se assertivo.
-Nnão. – Balbuciou Rita. – Hê… As coisas estão mais ou menos, mas eu consigo dar conta do recado.
- Ah!!, estão mais ou menos. – O sarcasmo era notório.
- Parem vocês os dois. – Interveio a mãe já a prever onde aquilo iria parar.
- Cala-te! A culpa dela ser assim é toda tua. – Gritou o pai já descontrolado.
- Cala-te tu! – Explodiu Rita. A culpa não é de ninguém. E se for, é tua porque nunca me deixaste fazer nada sem ser debaixo das tuas ordens.
O pai levantou-se. O rosto vermelho, irado, denunciava a fúria que estava a sentir.
- A culpa é minha?! A culpa é minha?! Nunca te deixei fazer nada? Eu que sempre te dei tudo. A culpa é da tua mãe que nunca me deixou educar-te como deve de ser. Olha agora o resultado…
- Que resultado? – Rita também se levantava e desafiava-o.
A mãe colocou-se entre os dois.
- Parem de imediato. – Disse batendo na mesa. Não quero disto cá em casa.
O pai olhou-as com desprezo. – Não queres disto cá em casa? Então eu saio. – Disse fazendo um gesto de saída.
- Não! – gritou Rita. – Quem sai sou eu. E é agora.
- Vai, vai para a casa que eu te dei. – “Atirou-lhe” o pai.
- Está descansado, que eu não preciso da tua casa para nada. – Gritou ela já fora de si, e beijando a mãe rapidamente, despediu-se e saiu batendo com a porta.
Caminhou uns metros, de mala ao ombro em direção à saída da quinta. Passou o portão sem olhar para trás, surda aos gritos da mãe que a chamava.
As lágrimas corriam-lhe pela face, mas limpando-as com as mãos, disse para si:
- Eu consigo. Eu consigo.
Caminhou cerca de 4 km e parou.
Cansada, sentou-se à beira do caminho.
E agora? O que iria fazer? A primeira coisa, disse para si, é chegar à estação e apanhar o comboio, depois logo se vê. Como é que eu vou para a estação? – Perguntou-se. - A esta hora não há táxis. Terei de ir a pé? Bom parece que não tenho outro remédio. Não vou ligar para casa para pedir boleia, isso nunca! – E, levantando-se continuou estrada fora.
Tinha andado alguns metros quando o telemóvel tocou. Pensando que era a mãe não atendeu. Continuou a andar.
Passado mais um pouco, o telefone tocou novamente. Desta vez atendeu sem olhar para o visor

- O que é? – Respondeu com maus modos. – Não penses que me fazes mudar de ideias. Ele não merece.
- Rita? – A voz do outro lado era a de um homem surpreso.
Atrapalhou-se. Olhou para o visor e não reconheceu o número.
- Sim? – Perguntou desconfiada.
- Rita, estás bem?
- João? – Pareceu-lhe reconhecer a voz.
- Sim, o que se passa?
Ela respirou fundo. As lágrimas voltaram. O João, o seu João aparecia sempre na hora certa. E contou-lhe enquanto seguia o caminho, cega ao cansaço e à distância que tinha pela frente.
- Estás a andar? – Interrompeu-a ele após alguns minutos.
- Sim. Estou a ir para a estação.
- A pé?
- Sim.
- Onde estás? Espera aí que eu vou buscar-te.
- Não é preciso. – Tinha decido não depender de mais ninguém…






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