O Destino - Fim

 

Carlos resolveu não insistir mais. Perguntou-lhe onde poderia encontrar Alice e saiu dizendo-lhe que voltaria a falar com ela quando estivesse mais calma.

Carlos deu uma volta pela aldeia antes de se dirigir à casa de Alice.

 Queria ver o lugar, ver as pessoas. Entrou na mercearia, e comprou um maço de tabaco.

Não que fumasse, já deixara esse vício há uns bons anos, mas era um modo de observar, de meter conversa, de fazer algumas perguntas. Foi assim que ficou a saber que Alice e Lurdes eram de facto muito amigas, e que tinham um destino reservado semelhante.

Também confirmou que Alice era uma especialista em chás, e que de facto ajudava muito as pessoas. Era íntima de Lurdes e da casa.

Apesar de não gostar de Olinda e de todos os nervos do seu corpo o alertarem contra ela, via-se obrigado a dar-lhe razão.

Alice parecia ser a pessoa que mais oportunidade e motivo tivera. Era conhecida pelos seus sonhos, pela sua vontade de levar uma vida diferente, e…pelos seus chás.

Todos falavam dela como aquela que queria ter estudado mais, que queria ter sido médica. E ao que parece tudo tinha começado há uns anos com um professor que trouxera aquelas "ideias parvas" de "gente da cidade".

Tinha afetado vários moços, mas de todos quem tinha ficado mais virado era a Alice.

Entretanto, a Alice, já chegara a notícia de que andava um inspetor pela aldeia a investigar a morte da D. Augusta. Também lhe chegara aos ouvidos que Olinda já se tinha "apoderado" dele.

- Bonito! O caldo estava entornado. Mas que raio de mulher! Porque é que ela não desaparecia de uma vez?!

A vida corria tão bem quando ela estava para lá das montanhas....

Nisto, o Carlos chegou a sua casa. Bateu à porta e esperou. Alice perguntou quem era.

- Pergunta parva! - Pensou. - Só podia ser o tal inspetor. O resto das pessoas não batia à porta, simplesmente abria-a e chamava por ela ao mesmo tempo que entrava.

-Bom dia. Carlos Pereira, inspetor da Judiciária. - Apresentou-se. - "Procuro a Sra. Alice.

Alice entreabriu a porta.

- Sim? -  Perguntou com um ar pouco simpático. – Sou eu. O que deseja?

Carlos não estava à espera daquilo. Alice era uma mulher de porte médio, um rosto redondo, cabelos castanhos, longos, mas tinha um porte e uns olhos que sem serem altivos impunham respeito. Naquele momento estavam zangados, mas emanavam um ar de intocabilidade....

Ficou atrapalhado. Era raro isto acontecer-lhe, mas a verdade é que, por alguns momentos, ficou sem palavras...

Alice olhava-o, calada. Com um ar desafiante. O que é que este inspetor queria dela? Como Carlos não falava, insistiu:

- Posso ajudá-lo? - Disse-o com uma voz firme. Não abria mais a porta. Não o convidava a entrar. Isso deixou Carlos ainda mais desconcertado.

- Hum, precisava de falar consigo. Posso entrar, ou falamos aqui à porta? - Carlos finalmente recuperara o sangue-frio, e usara o seu tom irónico.

Alice olhou-o demoradamente enquanto decidia o que fazer. Alguns momentos depois, abriu a porta e convidou-o a entrar. A sua mãe estava sentada na sala a ver o programa da tarde. Alice apresentou-os e depois convidou Carlos a ir beber um chá na cozinha. Não queria incomodar a mãe.

 - Outra vez chá? - Pensou Carlos. Mas que raio...

-  Não, obrigado. Quero apenas um copo de água.

Alice foi buscar um copo ao armário, abriu a torneira e encheu o copo. Estendeu-lho. Sempre em silêncio. Esperava. Avaliava-o...

 

 A tensão entre os dois era palpável.

Ela observava-o, olhava-o desafiante. Tentava avaliar o que ele quereria.

Ele olhava-a como fêmea. Sentia-se aprisionado naqueles olhos, paralisado por aquela atitude. Estava habituado a intimidar não a sentir-se intimidado. Bem, intimidado não seria a palavra mais apropriada, mas sentia-se incomodado. Por um lado, sentia-se atraído pela força que ela emanava, por outro lado sentia que tinha de se controlar, não podia perder o raciocínio. Estava ali para averiguar. Tinha de ser objetivo. Mas, caramba...

Alice foi, mais uma vez, a primeira a quebrar o silêncio.

- Já soube que está aqui para averiguar a morte de D Augusta.  – “Disparou”.

- Só não percebo o que faz aqui em minha casa.

Carlos estava impressionado. Não era só o porte, era a linguagem e a frontalidade.

Puxa! Ficou atrapalhado. Coisa que não lhe acontecia desde os seus tempos de caloiro.

Resolveu usar de franqueza também. Até porque desconfiava que dificilmente a enganaria, mesmo que tentasse.

- Sim. É verdade. Estou aqui para tentar perceber o que se passou, se é que se passou alguma coisa, com a morte dessa senhora.  - Carlos falou num tom amável, mas firme.  - E a razão pela qual aqui estou, a falar consigo, é porque me disseram que era íntima da família, e que nos últimos tempos passou muito tempo com a referida senhora...

- Sim. É correto. Mas continuo sem perceber o que aqui faz.

Carlos bebeu um gole de água.

- Bem, na verdade quero perguntar-lhe se notou algo de estranho nessas visitas.

- Estranho? Estranho, como? Não estou a perceber. -  Alice sentia crescer dentro dela uma indignação.

- Não sei se sabe, mas foram encontrados alguns sinais pouco usuais no corpo de D. Augusta. E a sua filha, a dona Lurdes, bem como a sua amiga - Aqui Carlos consultou um bloco de notas. - A Sra. Olinda - Disse após uma pequena pausa. - Afirmaram que ela não se sentia bem, que só se alimentava a chás…

- E? – Alice arrumou um prato que estava na bancada, virando-lhe as costas.

- E esses chás teriam sido fornecidos pela senhora.

- O quê?  - Alice estava indignada, aliás, estava possessa.

Como é que aquele homem se atrevia a insinuar alguma coisa?

No entanto não o demonstrava, ou melhor não o fazia na voz, mas os seus olhos, os seus olhos castanhos e expressivos não deixavam dúvidas em relação ao que sentia.

- Desculpe-me - Pediu com um ar altivo.  - Explique-me como se eu fosse muito burra. O que é que eu tenho a ver com tudo isso?

-  Quer saber se vi alguma coisa fora do normal? Vi. Vi que a D. Augusta de repente começou a ter dores de estômago, a sentir-se prostrada, a queixar-se de tudo e de todos. Agora porquê? Não sei. Se lhe dei chás? Sim dei. Como dou a toda a aldeia, e que eu saiba todos estão vivos e de boa saúde!!!

Carlos tentou acalmá-la. Não a estava a acusar de nada. Estava apenas a fazer o seu trabalho. A tentar perceber o que se tinha passado. Não sabia bem porquê, mas sentia uma necessidade de se justificar.

Ela virou-lhe a cara e cerrou os lábios. Ele percebeu que naquele momento não conseguiria mais nenhuma informação, e como não estava ali oficialmente, resolveu retirar-se.

Levantou-se. Dirigiu-se ao lava-loiça, lavou o copo e olhando-a bem nos olhos despediu-se.

Em breve voltaria a falar com ela.

Alice não lhe respondeu. Estendeu o braço indicando-lhe a primazia e seguiu-o até à porta da rua.

- Não lhe faltava mais nada! - Pensava.

Já na rua, Carlos pensava.

Não poderia ser Alice. Aquele tipo de crime não condizia com ela. Além do mais tudo apontava para ela e daquilo que tivera oportunidade de se aperceber, Alice era inteligente. Se quisesse cometer algum crime não deixaria indícios assim espalhados. Não. Alguém a queria incriminar. Mas quem? E porquê? Aliás, houvera de facto algum crime?

Ato contínuo pegou no telefone.

- Estou? Então estás bom?

- Sim, tudo a caminhar, e tu? Como estás?  Como vão as coisas por aí?

- Um pouco confusas. Já sabes alguma coisa das amostras?

- Não, pá. Só para a semana. Aguentas-te aí mais uns dias?

- Que remédio… Belas férias. Podia estar na praia e estou para aqui enfiado. – Lamuriou-se Carlos com um ar de enfado. -  Só tu é que me fazes destas!

- Deixa lá. Não estás na praia, mas estás nas montanhas, é turismo na mesma. E além disso tu não consegues estar de papo para o ar.…

- “Try me” – Desafiou-o Carlos.

Despediram-se e Carlos foi para a casa da Sra. Margarida onde alugara o quarto.

A Sra. Margarida, assim que o viu chegar, perguntou-lhe se estava bem acomodado, se tudo estava a seu gosto e se iria ali jantar, ou se jantaria fora. Carlos estava cansado. A viagem tinha sido longa e o facto de não ter nada concreto irritava-o. Decidiu ficar. Perguntou o que seria o jantar.

- Chanfana de cabrito. - Disse-lhe D. Margarida.

- Boa! - Pensou Carlos, e de repente sentiu-se esfomeado.

As 19.00 H sentaram-se à mesa.

Juntamente com ele estavam o marido de Margarida à cabeceira, Margarida à sua direita e os três filhos homens sentados ao lado da mãe.

Carlos estava em frente a Margarida, do lado esquerdo do patriarca.

O pai deu a oração de agradecimento pelos alimentos e a refeição começou. No início a conversa era forçada, saía aos poucos, da boca de Margarida, mas pouco a pouco, as barreiras foram-se quebrando e Carlos acabou por ter uma refeição bem agradável.

A conversa variou entre os costumes da cidade e os costumes da terra, e Carlos aproveitou para perceber melhor aquela coisa de as filhas terem de ficar a tomar conta da mãe.

D. Margarida era contra este costume, assim como o seu marido, mas os seus filhos, uma geração mais nova, estranhamente eram a favor.

Foi então que falaram de Lurdes e de Alice, e Carlos ficou a conhecer e a admirar mais um pouco a Alice

 A opinião geral da aldeia era a de que Alice não fora feita para viver ali. Quando o professor lá estivera, ensinara-a a pensar e dizia que ela tinha capacidade para ser Sra. da farmácia. Quisera mesmo levá-la com ele, mas a família não tinha deixado.

Alice, naquela época, vivia enfiada na escola, e quando não estava na escola era vê-la com os livros na mão, livros grandes e pesados.

- De medicina. - Diziam.

Depois o professor teve de partir. Veio uma professora em seu lugar e as coisas já não foram as mesmas. Alice tinha sofrido muito com esta partida, mas levantara a cabeça e continuava a sua vida. Sem demonstrar rancores e sem se meter em confusões como muitas se metiam.

Lurdes era a sua melhor amiga. Quem as queria ver, era ir a casa de uma ou de outra, até que aparecera Olinda. Aí as coisas mudaram. Lurdes andava sempre com Olinda que era uma estouvada e metia-lhe coisas na cabeça.

Tinha mudado de comportamento, andava sempre na vila, a mãe tinha ficado sozinha. Se não fosse Alice, teria morrido mais cedo.

- Como assim? -  Carlos aguçou os ouvidos.

- Então, enquanto Lurdes andava de cabeça virada com a outra, de um lado para o outro era Alice quem fazia companhia à sua mãe, muitas vezes até era ela que lhe dava o almoço que as outras até se esqueciam...

As coisas não estavam fáceis para Alice. Tudo apontava para ela, mas faltava o motivo.

Porque mataria ela a mãe de Lurdes? Aliás quem beneficiaria com a morte da Sra. era única e exclusivamente Lurdes que ficava liberta.

Que confusão!  Alice tinha os meios e as oportunidades, Lurdes tinha os motivos. Conseguia colocar Alice no local do crime, mas não lhe conseguia atribuir um motivo, e além disso havia algo nele que lhe dizia que Alice não era uma assassina. Nada fazia sentido...

Quatro dias sem grandes avanços e Carlos estava a desesperar. Estava sentado no café a maldizer a sua vida, quando António lhe ligou.

- Bom dia, menino! Que tal vai a molenga? _ Brincou.

- Goza, goza. Tens novidade para mim? Estou a desesperar. Para onde quer que me vire são becos sem saída…

- Olha, por acaso até tenho.

- Então? Não faças suspense. Diz lá.

- Tinha razão, meu. A velha foi envenenada com arsénio.

- Eu sabia!!! Ouve, isso onde é que se arranja?

- Na farmácia, nalgumas só. Raras, aliás.

- E pode-se comprar assim? Sem mais nem menos?

- Não. Tem de haver uma prescrição médica. Mas duvido que algum colega passe isso. Já não se usa. Há que o use como herbicida… - António ia-se lembrando das coisas à medida que falava.

- Herbicida? E precisa-se de receita para isso?

- É pá…não…, mas a farmácia tem de registar a quem vende.

- Bingo! Boa. Adeus.

Carlos desligou o telefone sem esperar que o amigo se despedisse e engoliu a cerveja à pressa. Levantou-se e resolveu seguir os seus instintos.

- Alice? – Desta vez não bateu à porta. Abriu e entrou chamando por ela.

Surpresa, ela veio ter com ele, com uma faca na mão.

- Calma! – Brincou. – Venho como amigo.

- Amigo? – O homem endoideceu? – Pensou ela.

- Não estou a perceber. – Respondeu ainda fria. Depois, lembrando-se de que ele era polícia. – A faca é dos legumes. Estava a fazer sopa.

- Posso entra?

- Já cá está dentro. – Fez-lhe ver de um modo acutilante.

- Raios! – Pensou ele. – Não acerto uma.

Inspirou fundo, colocou o seu melhor sorriso e disse-lhe:

- Queria mesmo falar consigo. Já temos a certeza de que foi crime, e apesar de tudo apontar contra si, não acredito na sua culpa.

Alice abalou-se. Levou a mão ao peito e deixou-se cair no banco da cozinha, para onde, entretanto tinham ido.

- Eu? Mas…Não estou a perceber. Eu não fiz nada!!!

Os seus olhos que no outro dia mostraram firmeza e frieza, mostravam agira medo e susto. Um pouco também de indignação.

- Eu acredito. E desconfio de outra pessoa. Mas para ter a certeza preciso de ter provas. E aqui todos se calam quando eu apareço. Daí eu precisar de si. Preciso que me acompanhe nas investigações e seja o meu elo de ligação à comunidade.

- Porquê eu?

- Não sei…confio em si, simplesmente.

Assim que pronunciou estas palavras, Carlos recriminou-se:

- Confio em si? Estás parvo? O que é que te deu?

Alice olhou-o diretamente nos olhos e entre eles estabeleceu-se uma comunicação muda.

- Confias? – Perguntou ela.

- Confio. – Confirmou ele.

- Está bem. – Disse ela passado. Um pouco. – Aguarde só que troque de roupa.

Saiu e Carlos ficou a pensar. Mas que mulher esta. Que poder ela tinha sobre si? Nunca fizera nada assim em toda a sua carreira e esta já contava uns bons anos. Bem, agora já estava.

- Já fizeste M*da, agora aguenta-te! – Ralhou consigo próprio.

Ela veio do quarto completamente diferente. Arranjada, um pouco de maquilhagem no rosto e um rabo-de-cavalo, com alguns fios soltos, davam-lhe um ar de mulher da cidade. Uma leoa à caça. E ele sentia-se a sua presa.

- Por onde começamos? – Perguntou ela alheia às cogitações dele, mas não indiferente à sua pessoa. Também ela se sentia atraída por ele. Não sabia explicar o porquê, mas desde que falara com ele, que ele povoava os seus sonhos, era personagem principal dos seus pesadelos, e invadia-lhe a mente durante o dia. Quando o via ao longe na rua, ou sentado no café, sentia um calor subir por si acima que se revelava no rubor da face. Felizmente ele não a via…

A viagem à farmácia, foi inútil. Ninguém tinha vendido isso, já não se usava e era perigoso.

Resolveram ir até Viseu, e fazer um périplo pelas farmácias, mas as respostas foram as mesmas.

Foram até à rua onde Olinda morava, e começaram a fazer perguntas acerca dela na mercearia, no café do bairro, no quiosque, enfim. Nos sítios que ela deveria frequentar. Alice mostrou-se preciosa. Apresentando-se como vizinha da terra, e amiga, ia metendo conversa e obtendo informações que depois transmitia a Carlos quando se lhe juntava nos carros ou no café.

A proximidade dos dois foi crescendo, e o que tinha de acontecer estava prestes a explodir, mas ambos se refreavam.

Voltaram à aldeia com uma mão cheia de informações acerca do carater de Olinda, que lhes revelava ser ela a suspeita indicada, mas faltava-lhes aprova derradeira. A aquisição do veneno.

Resolveram falar novamente com Lurdes, talvez ela os pudesse ajudar…

 - Lurdes! – Chamou Alice. -Onde estás?

- Aqui! – Respondeu Lurdes do fundo do quintal.

Deram a volta e foram dar com Lurdes a fazer uma queimada no quintal.

- O que estás a fazer?

- A queimar as coisas que Olinda aqui deixou. Acho que ela embruxou a minha mãe, com as rezas e chás?

- Chás? – Perguntou Carlos. – Os chás não eram da Alice?

- Não. Estes eram uns que ela trouxe duma … “adivinha”. Ela disse à minha mãe que alguém lhe tinha lançado um “mau olhado” e que este chá a iria curar…

- Ó mulher! – Alice exasperou-se. – E tu nunca disseste nada?

- Não queime mais! – Gritou Carlos ao ver que ela ia deitar um pacote de chá na fogueira.

Lurdes assustou-se e atirou o chá para o lado.

- Mas o que se passa? Não estou a perceber nada.

- Onde mora essa “adivinha”? – Perguntou Carlos sem lhe responder.

Lurdes, lá lhe disse o nome da aldeia onde a mulher vivia, e Carlos, pegando no pacote que ela deitara ao chão e virando-se para Alice, agarrou-a, beijou-a.

- Amo-te! – Disse-lhe segurando-lhe no rosto. Depois, abraçou-a com força e ordenou-lhe:

- Ficas aqui. Não percas a Lurdes de vista e não deixas Olinda aproximar-se. Não falem disto a ninguém. Apanhámo-la!!! Vou fazer uns telefonemas e vou à casa da mulher. Finalmente apanhámo-la!!!

- Cuidado! – Gritou do portão. – Amo-te! – Explodiu Feliz!

Lurdes, sem perceber nada, e atónita com o que acabara de ouvir e ver, perguntou a Alice.

- Podes explicar-me o que se passa?

- Não sei…- Respondeu corada e feliz. – Não sei mesmo… Mas é tão bom!

Alice sorriu. Tinham acabado os seus pesadelos. Todos…



 

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