Game Over
- Ali
vai ela - Observou Ricardo. - Pontual como sempre. Aquela roupa desportiva fica-lhe
mesmo bem.
Ricardo
olhava para Joana, sentado à sua secretária de fronte para o ginásio da moda.
Todos
os dias era o mesmo.
Ela
passava de fato de treino justa que lhe modelava o corpo e o cabelo preso num
rabo de cavalo a ondular.
E
Ricardo olhava-a. Seria a sua próxima presa.
Ricardo
era assim.
Gostava
do jogo. O jogo da sedução.
Era
isso que o estimulava, que lhe dava interesse.
Quanto
mais difícil fosse melhor.
Gostava
do jogo do gato e rato.
Gostava
de se reinventar em novas maneiras de conquistar. Para ele a sedução era um
jogo com vários níveis.
E
ele era um jogador exímio.
Saboreava
cada nível como se fosse o último. Sentia o coração a bater e as pernas a
tremer. Até que chegava o último nível. Fim de jogo.
O
interesse desaparecia e Ricardo procurava outro alvo, outro jogo.
-
Um dia ainda se vira o feitiço contra o feiticeiro! - Dizia-lhe Luís, que desde
a adolescência o acompanhava neste jogo e ia beneficiando dos estragos por ele
deixados.
Ricardo
ria-se. Era impossível. Era demasiado bom neste jogo para se deixar apanhar.
Iria
inscrever-se no ginásio e ela iria ver. Gostava pouco de ginástica, mas aquela
miúda merecia a pena.
Assim
o fez.
Abriram-se
as hostilidades e o jogo começou.
Primeiro
devagar, muito lentamente. Os progressos eram quase nulos. A Joana era uma
miúda difícil.
-
"Ótimo"- Pensava Ricardo no alto da sua sobranceria. - " Assim
terei que me exceder em criatividade".
E
Ricardo excedeu-se. Fez de tudo.
Mas
Teresa apenas lhe dirigia-a algumas palavras de circunstâncias. Ricardo começava
a desanimar. Não estava habituado. Estava quase a dar-se por vencido, quando um
dia, ela olhou para ele e disse-lhe.
-
Queres ir tomar um café?
Ricardo
espantou-se.
-
"Olé!" - Pensou. O que se estaria a passar? Bem não interessava, o
que interessava era saltar de nível, e se tinha bonificação, melhor.
Foram
tomar um café, e depois outro, e outro.
Começaram
a sair e Ricardo começou a ficar embeiçado, apaixonado. Nunca sentira nada
assim. Era algo inquietante e reconfortante ao mesmo tempo, era saltar de nível
sem ver os perigos, sem se importar em salvar as vidas.
Luís
ria-se. Nunca vira o amigo assim.
-
Então, o que se passa? - Dizia-lhe. - Andas nas nuvens !!! Desta vez estás
apanhadinho…- Gozava-o.
Mas
Ricardo não lhe respondia.
Não
era capaz.
Toda
a sua energia estava virada para Teresa.
O
tempo foi passando e Ricardo sentiu que chegara a altura. Iria pedi-la em
casamento. Luís tinha razão. Tinha sido apanhado, mas era bom.
Tão
bom.
Desabafou
com o Luís pintando as coisas à sua maneira. Ela estava “prontinha” pelo que
desta vez iria dar “o nó”, queria experimentar… Afinal o jogo não estava
completo sem a última etapa. Já tinha tudo planeado.
Recorrendo
de toda a sua criatividade, levou-a a uma praia linda. Ao pôr do sol.
Encomendou
uns cavalos brancos para comporem o cenário.
Levou-a
a andar nos cavalos e no regresso, depois de desmontarem e junto à rebentação
das ondas, ajoelhou-se, e entregou-lhe o anel perguntando-lhe:
-
Teresa, queres casar comigo?
Ela
olhou para ele, séria. Fez-lhe uma caricia no rosto, pegou no anel e atirou-o
para o chão. Sorrindo divertida.
-
Mas...- Ricardo estava perplexo. - O que se passa? Não estou a perceber...
Teresa
olhou-o mais uma vez com um olhar frio e disse-lhe, fazendo-lhe uma festa no
rosto:
-
Meu caro. Game Over!
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