Amigas Improvaveis 12
Rita ligou a Maria não naquele dia, mas passados dois ou três, depois de
resolver uns assuntos. “Apanhou- a” nas
compras, a comprar comida, o que lhe deu o mote de conversa.
Num tom que não admitia recusa, informou-a que hoje a esperava para jantar.
Pedia-lhe desculpa por ser em cima da hora, mas já tinha tudo combinado.
Atiçou-a com a notícia do advogado e despedindo-se rapidamente ficou de lhe
enviar a morada por mensagem. A hora? Por volta da 20.30. Estaria bem para ela?
Ótimo. E mais uma vez desligou deixando a pessoa do outro lado sem resposta.
- Isto tem de mudar!
- Reclamou Maria. - E urgentemente!!!
Enquanto guardava o telemóvel no bolso, Maria começava a ficar nervosa. UM
ADVOGADO??, mas ela estava louca? Já não lhe tinha dito que não tinha dinheiro?
E ir jantar a casa dele? Mas esta miúda endoidecera de vez!!!
- NÃO! Mãe! Maluca és tu que vais na conversa dela. Eu avisei-te desde o início.
Essa fedelha só te iria trazer chatices. E olha agora onde estás!!! – A sua
filha estava furiosa. - Eu avisei-te, mas tu parecias embeiçada. - As batatas
eram descascadas como se fossem um bicho mau que tinha de ser eliminado.
- Cuidado com a
faca! - Maria tirou-lha da mão. - Ela não tem culpa do que aconteceu, e está a
tentar ajudar-me...
- Nem mesmo assim?!
Continuas a defendê-la? Olha, para mim basta!
Atirou com o avental para cima da mesa.
- Vou ter com o Flávio e janto com ele. Tu fazes o que quiseres. E, virando
as costas, pegou na bolsa e abriu a porta. Chocou com o irmão que vinha a
entrar.
- Cuidado! - Disse
ele ao desviar- se.
- Sai-me da
frente. – “Atirou” com raiva.
- Ei! Mordeu-lhe a
mosca? - Perguntou à mãe.
- Mais ou menos. Senta-te.
Temos de falar...
Rita chegou mais cedo.
Passou por uma casa que vendia comida para fora e encomendou bacalhau com
natas para todos. Não sabia dos gostos deles, mas apostava que deste prato
todos gostariam. Era impossível não gostar.
Animada, trocou de roupa, colocou a mesa e começou a preparar uma
sobremesa. Tarte de coco. A sua especialidade. Era fácil e rápida de
fazer.
Enquanto separava as coisas para a salada, depois de colocar a tarte no
forno, João chegou.
- Olá borracho! – Cumprimentou-o atirando-lhe um beijo. - Tira a gravata e
relaxa. Tenho tudo preparado.
- Olá. - Respondeu ele obedecendo-lhe.
Poisou a mala, tirou o casaco e a camisa que trocou por uma t shirt. Depois
foi até ao frigorífico procurando por algo frio para beber. Encontrou uma
cerveja. Encostado à porta do mesmo com a garrafa na mão, perguntou-lhe:
- Então conta
lá. Que história é essa? Ou melhor, que histórias são essas?
- Histórias? - Ela
tirava a sobremesa do forno e desenformava-a.
- Hum...cheira mesmo
bem. - Ele aproximou-se por trás cheirando-a.
- Quem? EU ou a
tarte?
- As duas. - Riu-
se. - Mas não desvies o assunto. Que historia é essa da ... Maria?
- Sim, Maria.
Ela sentou- se na mesa da cozinha e indicou-lhe a cadeira em frente para
ele se sentar.
Ele preferiu ficar de pé.
Então ela levantou-se e começou a preparar a salada enquanto falavam.
Contou-lhe o que Maria lhe tinha contado, a vida que ela tinha tido, o
voluntariado que ela fazia e rematou apelando ao enorme coração dele.
- Vês porque é que tens de a ajudar???? E ainda por cima foi aquela Odete.
Eu sei que foi. Para se vingar. Não podes deixar uma injustiça destas
acontecer. Não podes...
A campainha tocou antes que ele tivesse tempo de responder.
- Olha é ela. - Correu até à porta. - Vais adorá-la. - Disse antes de
a abrir, mas já com a mão no puxador.
Abriu a porta. Maria estava parada com um embrulho na mão.
Envergava um vestido verde azeitona, simples, mas elegante. Trazia ao ombro
uma mala preta que condizia com umas sandálias pretas também elas simples, mas
de bom gosto. O cabelo trazia-o preso num coque com alguns fios soltos que lhe
davam um ar provocador. Como maquilhagem tinha apenas um batom e um pouco de rímel
que ressaltava as pestanas já de si longas e escuras.
- Maria! - Assobiou.
- Está um espanto!!! Nunca pensei que pudesse ser tão bonita!!
Embaraçada Maria entregou-lhe o embrulho.
- Obrigada...acho
eu.... Tem aqui a sobremesa.
- Ora não era preciso. Eu também fiz. Entre.
E afastando-se da porta deu-lhe espaço para entrar.
- João esta é a
Maria, Maria este é o João. O seu advogado. Sentem-se que eu trato de tudo.
E, como um passarinho, saiu a saltitar da sala indo até à cozinha com a
sobremesa da Maria na mão.
O João e a Maria sentaram-se embaraçados. A Rita realmente não tinha
emenda, pensavam ambos se avaliando mutuamente.
Maria não estava à espera de um advogado tão novo. Que idade teria? Deveria
ser mais velho que a Rita, mas não muito…talvez uns 5 ou 6 anos. - Pensava. A
verdade é que ele parecia inspirar confiança com aqueles olhos do tamanho do
mundo e um sorriso aberto.
Por sua vez João avaliava a Maria. Era uma mulher bonita. Madura, mas de
feições elegantes. Parecia ser segura de si. Realmente não se parecia nada com
o protótipo de uma empregada de limpeza, mas ele já deveria saber que não se
deve “julgar um livro pela capa”. Sabia-o por experiência própria.
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